domingo, 21 de março de 2021

Qual a estabilidade do Soro Fisiológico após a sua abertura? |#SD415

Uma leitora do blog contactou-me com uma pergunta acerca da estabilidade da solução de soro fisiológico a 0,9%, após a sua abertura.

Quando este tipo de embalagens é aberta mas não é utilizada completamente, o que devemos fazer? Eliminar, ou podemos utilizar posteriormente?

Como em qualquer outra solução, quando iniciamos a sua utilização, deve ser inscrito no frasco (balão de material plástico ou vidro) a data e hora de abertura (a não ser que a vá utilizar completamente de imediato).

Não tenha receio de escrever no frasco de soro. Pode ler a justificação neste artigo: É ou não seguro escrever num frasco de soro? | (#SD334)

Para que a solução se soro fisiológico possa continuar a ser utilizada, é fundamental garantir também a sua esterilidade. Para tal deve ser sempre utilizado uma seringa e agulha esterilizadas (assim como qualquer outro dispositivo médico como perfuradores), tendo o cuidado de desinfetar previamente a zona a perfurar.

Ao pesquisar sobre este assunto, encontrei o artigo que responde exatamente a esta questão:

"Soro Fisiológico: Potencial Risco De Perda Da Estabilidade Após Aberto e Armazenado Por Trinta Dias Em Diferentes Meios" 

Nas conclusões do artigo podemos ler que de acordo com os resultados expressos nas tabelas I e II (avaliação da concentração no momento de abertura, às 24 horas, 7 dias, 15 dias e 30 dias após abertura) pode-se concluir que o soro fisiológico 0,9% é estável quando armazenado em temperatura ambiente ou em frigorifico, não alterando as suas concentrações de cloreto de sódio, portanto, o seu uso é seguro e eficiente durante o período analisado (30 dias).

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

sábado, 20 de março de 2021

Como garantir a aprendizagem do profissional envolvido num incidente de segurança do doente? | #SD414

Como garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?

Esta foi a questão que um colega Gestor de Risco Clínico num hospital me colocou por telefone.

Como sabemos, os principais objetivos de um sistema de notificação de incidentes é recolher informação sobre os incidentes de segurança do doente que ocorrem na instituição, desenvolver a sua análise sempre que tal se justifique e APRENDER com a informação recolhida, implementando medidas corretivas e preventivas sempre que necessário.

Impedir a recorrência do incidente ou diminuir a sua gravidade caso ocorra novamente é algo que só conseguimos alcançar quando implementamos medidas corretivas ou preventivas de acordo com as causas raiz identificadas.

Mesmo quando a notificação de um incidente é feita de forma "descaracterizada", é possível ao Gestor do Risco Clinico durante a investigação/análise do incidente, perceber qual ou quais os profissionais envolvidos mais diretamente nesse incidente.

Mesmo desenvolvendo um plano de ação com medidas corretivas ou preventivas, que posteriormente é enviado à hierarquia do Serviço e outras partes interessadas, corremos o risco de que essa informação não chegue aos profissionais que identificámos como estando envolvidos diretamente nas causas raiz do incidente.

É também aqui que um Gestor do Risco Clínico tem de ser extremamente cuidadoso, garantindo que a identidade dos eventuais envolvidos não seja exposta, mas desenvolvendo esforços para que a mensagem de aprendizagem chegue efetivamente à(s) pessoa(s) pretendida(s).

Então, como é que o Gestor do Risco Clínico pode garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?

  • Tenha a certeza sobre qual a informação que quer transmitir;
  • Identifique a pessoa(s) que considera ser imprescindível informar, e que tenha estado envolvida, com base na análise efetuada, no incidente de segurança do doente;
  • Reúna a informação (os factos concretos);
  • Aborde a pessoa e informe que gostaria de discutir uma informação sobre segurança do doente de forma privada e pergunte qual o melhor momento;
  • Reúna com a pessoa, de preferência em ambiente neutro, e de forma simples explique qual é o assunto, como foi conduzida a análise do incidente e porque é que considera que essa pessoa esteve envolvida nas causas raiz do incidente;
  • Se adequado, pode partilhar informação por escrito (use o em papel. Não aconselho a utilização do email);
  • Esteja preparado para ouvir e até mesmo a ser desafiado na lógica da sua análise;
  • Trabalhe para obter a total compreensão da análise efetuada por parte da pessoa abordada e obtenha a sua concordância;
  • Em todo o processo, garanta a confidencialidade e o anonimato de todos os envolvidos (em especial do notificador/a).
É comum um profissional não ter consciência de um incidente em que esteve envolvido, acabando o incidente por ser relatado por outro profissional que observa as consequências do incidente no doente.

Assim sendo, esta informação é por vezes recebida com ceticismo e desconfiança.

É pois importante garantir que a abordagem do profissional é realizada em total segurança para o mesmo e que este sinta que o objetivo não é mais do que garantir que a aprendizagem com o erro possa ocorrer, e com isso, melhorar a segurança do doente.

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

sábado, 13 de março de 2021

Semana de Sensibilização para a Segurança do Doente | #SD413


Esta semana, de 14 a 20 de março, celebra-se a Semana de Sensibilização para a Segurança do Doente, uma iniciativa do Institute for Healthcare Improvement (IHI).


A Semana de Sensibilização para a Segurança do Doente é um evento anual de reconhecimento com o objetivo de encorajar todos a aprender mais sobre segurança na saúde.


Durante esta semana, o IHI procura promover discussões importantes a nível local e globalmente e inspirar ações para melhorar a segurança do sistema de saúde - para os Doentes e para a força de trabalho.


A Semana de Sensibilização para a Segurança do Doente serve como um tempo dedicado e uma plataforma para aumentar a sensibilização sobre a segurança do Doente e reconhecer o trabalho já realizado.

 

Encontras uma lista das iniciativas do IHI neste link


Para colaborar e promover esta iniciativa de sensibilização, proponho que assistas ao (ou revejas o) Curso “Segurança do Doente - Conceitos Base”.

Este é um curso on-line completamente grátis, que podes assistir ao teu ritmo.


Não deixes de revisitar o blog e rever alguns dos seus artigos que possam ser do teu interesse.

Todos somos responsáveis pela Segurança do Doente e pela nossa própria segurança.

Desejo-te uma boa Semana de Sensibilização para a Segurança do Doente.


Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

domingo, 7 de março de 2021

Eu não estou na linha da frente, mas… | #SD412


Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias vou cuidar de doentes.

Eu não estou na linha da frente, mas garanto o funcionamento da Urgência de Oftalmologia e de Otorrinolaringologia.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias avalio gravidas e respondo aos seus medos e ansiedades.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias estou na pequena cirurgia a apoiar as injeções intravitreas para que o doente não fique cego.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias colaboro na substituição de uma nefrostomia, um cateter suprapúbico ou um duplo J, para que estes cateteres não calcifiquem e o doente não sofra.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias administro medicação ou faço uma colheita de sangue.

Eu não estou na linha da frente, mas já perdi a conta às zaragatoas que colhi a profissionais do meu hospital.

Eu não estou na linha da frente, mas continuo a fazer pensos, colaborar em biopsias aspirativas ou a remover agrafos de feridas operatórias.

Eu não estou na linha da frente, mas continuo a colaborar na extração de sinais suspeitos na dermatologia. Ouço o Doente: - “Tenho medo que seja maligno Sr. Enfermeiro…”. Não sei o que responder, mas ofereço a minha compaixão e esperança. O Doente compreende.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias envio peças anatómicas para a Anatomia Patológica, e o período de espera pelo resultado começa…

Eu não estou na linha da frente, mas descontamino todo o espaço antes do doente seguinte, para que ele e EU estejamos seguros.

Eu não estou na linha da frente, mas aceito colaborar numa biopsia renal. O doente está internado e não pode esperar, e acima de tudo não merece esperar.

Eu não estou na linha da frente, mas esforço-me para dar esperança ao doente que está comigo naquele momento. Ele é a razão de eu estar ali.

Eu não estou na linha da frente, mas tive de aprender e recordar tudo o que há para fazer, mesmo estando afastado há anos da prática e não ser este o meu posto de trabalho habitual.

Eu não estou na linha da frente, mas reaprendi a fazer os registos no SClínico para que a informação do doente não se perca.

Eu não estou na linha da frente, mas já vacinei centenas de Profissionais de saúde, respondendo às suas dúvidas e receios.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro na avaliação dos Equipamentos de Proteção Individual que os Fornecedores nos querem vender para garantir que os mesmos estão em conformidade com as normas em vigor e para que os profissionais da linha da frente estejam seguros.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro em pareceres sobre Controlo de Infeção para que os que estão na linha da frente tenham a melhor evidência possível. Uns compreendem e aceitam, outros simplesmente ignoram ou desprezam.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro para que os corpos que se acumulam na morgue tenham cuidados dignos e que os agentes funerários compreendam a complexidade do momento que vivemos.

Eu não estou na linha da frente, mas reorganizei um Rouparia e garanti que todos têm um fato, uma farda limpa, todos os dias.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias faço a gestão do meu serviço, ao mesmo tempo que presto cuidados em 4 áreas diferentes do meu serviço, garanto o pedido de material de sutura e penso e reponho material nas diferentes áreas.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias ouço um “obrigado” sincero do doente que acabo de cuidar. Não publicamos fotografias todos equipados dos pés à cabeça nem fazemos vídeos de dança no Tik-Tok, mas muitos doentes têm voltado e reconhecem-nos pelo nome. Estão gratos pelo cuidado técnico que tem recebido, mas acima de tudo, pelo carinho e pela esperança.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias faço de confidente e ouvinte do meu colega enfermeiro, do assistente operacional, do assistente técnico, do técnico superior de diagnóstico e terapêutica, do médico. Todos ficamos preocupados, choramos e rimos em conjunto. Todos os que estão comigo nesta linha que não é a “da frente”, todos sofremos o mesmo impacto.

Sem eles, eu não era capaz de fazer nada.

Eu não estou na linha da frente, mas sinto que estou no centro de tudo, e ao meu lado  - ombro com ombro - todos os profissionais que fazem acontecer, e bem lá no meio, o Doente.

É para a Segurança do Doente que trabalho, é por ele que eu e muitos outros vamos lá, todos os dias, para uma linha que não é “a da frente”, mas que também salva vidas e dá esperança.

Amanhã, voltarei para essa linha.

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#segurancadodoente

Este texto representa o que EU, a minha Equipa e muitos outros Profissionais com quem trabalho, fazemos no dia-a-dia (e não estará completa).

A minha gratidão para todos os profissionais do Serviço de Consultas Externas, Farmácia, GCLCIPRA, GIARC, Aprovisionamento, Rouparia, Morgue, Informática, Esterilização, Limpeza, Instalações e Equipamentos, Gestores Hospitalares, Seguranças, Alimentação e para todos os outros que eu possa estar a esquecer. 

Obrigado!

Fernando Barroso