Como garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?
Esta foi a questão que um colega Gestor de Risco Clínico num hospital me colocou por telefone.
Como sabemos, os principais objetivos de um sistema de notificação de incidentes é recolher informação sobre os incidentes de segurança do doente que ocorrem na instituição, desenvolver a sua análise sempre que tal se justifique e APRENDER com a informação recolhida, implementando medidas corretivas e preventivas sempre que necessário.
Impedir a recorrência do incidente ou diminuir a sua gravidade caso ocorra novamente é algo que só conseguimos alcançar quando implementamos medidas corretivas ou preventivas de acordo com as causas raiz identificadas.
Mesmo quando a notificação de um incidente é feita de forma "descaracterizada", é possível ao Gestor do Risco Clinico durante a investigação/análise do incidente, perceber qual ou quais os profissionais envolvidos mais diretamente nesse incidente.
Mesmo desenvolvendo um plano de ação com medidas corretivas ou preventivas, que posteriormente é enviado à hierarquia do Serviço e outras partes interessadas, corremos o risco de que essa informação não chegue aos profissionais que identificámos como estando envolvidos diretamente nas causas raiz do incidente.
É também aqui que um Gestor do Risco Clínico tem de ser extremamente cuidadoso, garantindo que a identidade dos eventuais envolvidos não seja exposta, mas desenvolvendo esforços para que a mensagem de aprendizagem chegue efetivamente à(s) pessoa(s) pretendida(s).
Então, como é que o Gestor do Risco Clínico pode garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?
- Tenha a certeza sobre qual a informação que quer transmitir;
- Identifique a pessoa(s) que considera ser imprescindível informar, e que tenha estado envolvida, com base na análise efetuada, no incidente de segurança do doente;
- Reúna a informação (os factos concretos);
- Aborde a pessoa e informe que gostaria de discutir uma informação sobre segurança do doente de forma privada e pergunte qual o melhor momento;
- Reúna com a pessoa, de preferência em ambiente neutro, e de forma simples explique qual é o assunto, como foi conduzida a análise do incidente e porque é que considera que essa pessoa esteve envolvida nas causas raiz do incidente;
- Se adequado, pode partilhar informação por escrito (use o em papel. Não aconselho a utilização do email);
- Esteja preparado para ouvir e até mesmo a ser desafiado na lógica da sua análise;
- Trabalhe para obter a total compreensão da análise efetuada por parte da pessoa abordada e obtenha a sua concordância;
- Em todo o processo, garanta a confidencialidade e o anonimato de todos os envolvidos (em especial do notificador/a).
Assim sendo, esta informação é por vezes recebida com ceticismo e desconfiança.
É pois importante garantir que a abordagem do profissional é realizada em total segurança para o mesmo e que este sinta que o objetivo não é mais do que garantir que a aprendizagem com o erro possa ocorrer, e com isso, melhorar a segurança do doente.
Fernando Barroso
UM DIA SERÁS TU O DOENTE!
#umdiaserastuodoente
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