sábado, 20 de março de 2021

Como garantir a aprendizagem do profissional envolvido num incidente de segurança do doente? | #SD414

Como garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?

Esta foi a questão que um colega Gestor de Risco Clínico num hospital me colocou por telefone.

Como sabemos, os principais objetivos de um sistema de notificação de incidentes é recolher informação sobre os incidentes de segurança do doente que ocorrem na instituição, desenvolver a sua análise sempre que tal se justifique e APRENDER com a informação recolhida, implementando medidas corretivas e preventivas sempre que necessário.

Impedir a recorrência do incidente ou diminuir a sua gravidade caso ocorra novamente é algo que só conseguimos alcançar quando implementamos medidas corretivas ou preventivas de acordo com as causas raiz identificadas.

Mesmo quando a notificação de um incidente é feita de forma "descaracterizada", é possível ao Gestor do Risco Clinico durante a investigação/análise do incidente, perceber qual ou quais os profissionais envolvidos mais diretamente nesse incidente.

Mesmo desenvolvendo um plano de ação com medidas corretivas ou preventivas, que posteriormente é enviado à hierarquia do Serviço e outras partes interessadas, corremos o risco de que essa informação não chegue aos profissionais que identificámos como estando envolvidos diretamente nas causas raiz do incidente.

É também aqui que um Gestor do Risco Clínico tem de ser extremamente cuidadoso, garantindo que a identidade dos eventuais envolvidos não seja exposta, mas desenvolvendo esforços para que a mensagem de aprendizagem chegue efetivamente à(s) pessoa(s) pretendida(s).

Então, como é que o Gestor do Risco Clínico pode garantir que a aprendizagem, após análise de um incidente de segurança do doente, chega mesmo ao profissional envolvido nesse incidente?

  • Tenha a certeza sobre qual a informação que quer transmitir;
  • Identifique a pessoa(s) que considera ser imprescindível informar, e que tenha estado envolvida, com base na análise efetuada, no incidente de segurança do doente;
  • Reúna a informação (os factos concretos);
  • Aborde a pessoa e informe que gostaria de discutir uma informação sobre segurança do doente de forma privada e pergunte qual o melhor momento;
  • Reúna com a pessoa, de preferência em ambiente neutro, e de forma simples explique qual é o assunto, como foi conduzida a análise do incidente e porque é que considera que essa pessoa esteve envolvida nas causas raiz do incidente;
  • Se adequado, pode partilhar informação por escrito (use o em papel. Não aconselho a utilização do email);
  • Esteja preparado para ouvir e até mesmo a ser desafiado na lógica da sua análise;
  • Trabalhe para obter a total compreensão da análise efetuada por parte da pessoa abordada e obtenha a sua concordância;
  • Em todo o processo, garanta a confidencialidade e o anonimato de todos os envolvidos (em especial do notificador/a).
É comum um profissional não ter consciência de um incidente em que esteve envolvido, acabando o incidente por ser relatado por outro profissional que observa as consequências do incidente no doente.

Assim sendo, esta informação é por vezes recebida com ceticismo e desconfiança.

É pois importante garantir que a abordagem do profissional é realizada em total segurança para o mesmo e que este sinta que o objetivo não é mais do que garantir que a aprendizagem com o erro possa ocorrer, e com isso, melhorar a segurança do doente.

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

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