domingo, 7 de março de 2021

Eu não estou na linha da frente, mas… | #SD412


Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias vou cuidar de doentes.

Eu não estou na linha da frente, mas garanto o funcionamento da Urgência de Oftalmologia e de Otorrinolaringologia.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias avalio gravidas e respondo aos seus medos e ansiedades.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias estou na pequena cirurgia a apoiar as injeções intravitreas para que o doente não fique cego.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias colaboro na substituição de uma nefrostomia, um cateter suprapúbico ou um duplo J, para que estes cateteres não calcifiquem e o doente não sofra.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias administro medicação ou faço uma colheita de sangue.

Eu não estou na linha da frente, mas já perdi a conta às zaragatoas que colhi a profissionais do meu hospital.

Eu não estou na linha da frente, mas continuo a fazer pensos, colaborar em biopsias aspirativas ou a remover agrafos de feridas operatórias.

Eu não estou na linha da frente, mas continuo a colaborar na extração de sinais suspeitos na dermatologia. Ouço o Doente: - “Tenho medo que seja maligno Sr. Enfermeiro…”. Não sei o que responder, mas ofereço a minha compaixão e esperança. O Doente compreende.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias envio peças anatómicas para a Anatomia Patológica, e o período de espera pelo resultado começa…

Eu não estou na linha da frente, mas descontamino todo o espaço antes do doente seguinte, para que ele e EU estejamos seguros.

Eu não estou na linha da frente, mas aceito colaborar numa biopsia renal. O doente está internado e não pode esperar, e acima de tudo não merece esperar.

Eu não estou na linha da frente, mas esforço-me para dar esperança ao doente que está comigo naquele momento. Ele é a razão de eu estar ali.

Eu não estou na linha da frente, mas tive de aprender e recordar tudo o que há para fazer, mesmo estando afastado há anos da prática e não ser este o meu posto de trabalho habitual.

Eu não estou na linha da frente, mas reaprendi a fazer os registos no SClínico para que a informação do doente não se perca.

Eu não estou na linha da frente, mas já vacinei centenas de Profissionais de saúde, respondendo às suas dúvidas e receios.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro na avaliação dos Equipamentos de Proteção Individual que os Fornecedores nos querem vender para garantir que os mesmos estão em conformidade com as normas em vigor e para que os profissionais da linha da frente estejam seguros.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro em pareceres sobre Controlo de Infeção para que os que estão na linha da frente tenham a melhor evidência possível. Uns compreendem e aceitam, outros simplesmente ignoram ou desprezam.

Eu não estou na linha da frente, mas colaboro para que os corpos que se acumulam na morgue tenham cuidados dignos e que os agentes funerários compreendam a complexidade do momento que vivemos.

Eu não estou na linha da frente, mas reorganizei um Rouparia e garanti que todos têm um fato, uma farda limpa, todos os dias.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias faço a gestão do meu serviço, ao mesmo tempo que presto cuidados em 4 áreas diferentes do meu serviço, garanto o pedido de material de sutura e penso e reponho material nas diferentes áreas.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias ouço um “obrigado” sincero do doente que acabo de cuidar. Não publicamos fotografias todos equipados dos pés à cabeça nem fazemos vídeos de dança no Tik-Tok, mas muitos doentes têm voltado e reconhecem-nos pelo nome. Estão gratos pelo cuidado técnico que tem recebido, mas acima de tudo, pelo carinho e pela esperança.

Eu não estou na linha da frente, mas todos os dias faço de confidente e ouvinte do meu colega enfermeiro, do assistente operacional, do assistente técnico, do técnico superior de diagnóstico e terapêutica, do médico. Todos ficamos preocupados, choramos e rimos em conjunto. Todos os que estão comigo nesta linha que não é a “da frente”, todos sofremos o mesmo impacto.

Sem eles, eu não era capaz de fazer nada.

Eu não estou na linha da frente, mas sinto que estou no centro de tudo, e ao meu lado  - ombro com ombro - todos os profissionais que fazem acontecer, e bem lá no meio, o Doente.

É para a Segurança do Doente que trabalho, é por ele que eu e muitos outros vamos lá, todos os dias, para uma linha que não é “a da frente”, mas que também salva vidas e dá esperança.

Amanhã, voltarei para essa linha.

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#segurancadodoente

Este texto representa o que EU, a minha Equipa e muitos outros Profissionais com quem trabalho, fazemos no dia-a-dia (e não estará completa).

A minha gratidão para todos os profissionais do Serviço de Consultas Externas, Farmácia, GCLCIPRA, GIARC, Aprovisionamento, Rouparia, Morgue, Informática, Esterilização, Limpeza, Instalações e Equipamentos, Gestores Hospitalares, Seguranças, Alimentação e para todos os outros que eu possa estar a esquecer. 

Obrigado!

Fernando Barroso

3 comentários:

  1. Olá
    Mesmo não estando na «Linha da frente» podemos sempre estar á frente...na nossa Linha.
    Grande abraço e votos de bom trabalho...em Segurança.Augusto

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  2. Não estando na "linha da frente" está seguramente muito à frente na prestação de cuidados com qualidade e segurança.

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  3. Parabéns pela exposição, na qual me revejo, pois estou na linha da frente, sempre que tiver uma pessoa a precisar do meu cuidado.

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