domingo, 31 de maio de 2020

Como garantir a Segurança do Doente quando és tu que precisas de Ajuda? | #SD386

 Eu não sei como tu estás neste momento, mas aposto que todo o teu mundo foi colocado em causa nestes últimos meses.

 Aquilo que era sólido e conhecido deixou de ser, e de repente, todos na área da saúde fomos chamados a fazer mais, a ser mais. Há muitos que chegaram a chamar-nos heróis.

 

Herói - Eu não quero esse titulo.

Aquilo que fiz resultou de todas as minhas experiências anteriores e da minha personalidade:

Lidar com o medo de algo que era desconhecido.

Reorganizar o Serviço quase diariamente.

Trabalhar com uma torrente de informação de hora a hora.

Ver sair metade da equipa para outros Serviços sem saber quando regressariam.

Reorganizar o restante da equipa para o que ficou para fazer e reinventar novas formas de fazer aquilo que não era hábito.

 

Não fiz nada sozinho. Não seria capaz.

Foi a minha equipa, os meus colegas Enfermeiros e Enfermeiras, os Assistentes Operacionais e Assistentes Técnicos, os Médicos e Técnicos que em conjunto fizeram tanto.

Reorganizamos uma Morgue e oferecemos segurança a todos os seus atores, impedindo que fechasse.

Ajudamos a gerir um fluxo constante de pedidos de Equipamentos de Proteção Individual, muitas vezes carregados do medo do desconhecido e da incerteza.

Lidamos com a crítica infundada, baseada no puro desconhecimento e na maldade.

Lidámos com os “peritos de bancada”, quando há anos travamos uma batalha pelo conhecimento em Controlo de Infecção que ninguém queria ouvir.

 

Não sou nenhum herói.

Estou absolutamente farto e cansado das exigências fundamentadas apenas na “categoria profissional” ou na recomendação de uma qualquer sociedade cujo histórico na elaboração de recomendações práticas com base nos princípios das Precauções Básicas e nas Precauções Específicas em Controlo de Infecção era, até agora, inexistente.

Estou farto da arrogância e de muitos acharem que agora tudo é justificado, ou por outro lado, que já não têm que justificar nada.

Estou, acima de tudo, farto da falta de educação e da falta de civismo, características de uma sociedade avançada. Afinal não avançamos nada!


E no meio de tudo isto, o Doente.

O Doente que tem medo e não quer vir ter connosco.

O Doente que foi impedido de vir porque lhe desmarcaram tudo (muito além do razoável).

O Doente que agora querem que regresse, ultrapassando algumas práticas de segurança se assim for conveniente.

 

Nunca como agora, a Segurança do Doente e os seus princípios fizeram tanto sentido.

 

Desculpa-me este desabafo. Mas se não falar contigo, falo com quem?

Fernando Barroso
UM DIA SERÁS TU O DOENTE!
#segurancadodoente