Porque
é que os Jornalistas não entrevistam Enfermeiras? Nós perguntámos-lhes?
Texto
original de Diana J. Mason e
Barbara Ann Glickstein, publicado a 08 de Janeiro de 2019 no Centerfor Health Journalism
Quando foi a última vez que você entrevistou uma
enfermeira para uma reportagem sobre algo que não fosse falta de recursos
humanos ou centrado na prática?
Não se lembra? A maioria dos jornalistas de saúde
diria o mesmo.
Recentemente, publicamos um estudo sobre a representação dos enfermeiros nos media e descobrimos que eles foram citados como fontes em apenas 2% das
histórias.
A maioria destes artigos era sobre aspectos específicos
da prática de Enfermagem ou outro tópico relacionado com os recursos humanos de
enfermagem. Os enfermeiros nunca foram citados como fontes em histórias centradas
na política de saúde e raramente no negócio da assistência de saúde, apesar de existirem
Enfermeiras em posições políticas no governo e estruturas governamentais ou
responsáveis por supervisionar a maior proporção do orçamento de uma instituição
de saúde.
O nosso estudo repetiu um estudo de 1997 sobre
enfermeiras e serviços noticiosos encomendado por Nancy Woodhull, editora fundadora do USA Today, que estava preocupada com a representação das mulheres
nas redacções e nas notícias. Conduzido na Universidade de Rochester, o estudo
examinou todas as notícias de saúde publicadas pelos principais jornais
nacionais e regionais, juntamente com notícias semanais e publicações
comerciais (…).
Para a nossa versão do estudo, fizemos uma parceria
com o Berkeley Media Studies Group
para amostrar aleatoriamente as mesmas publicações e descobrimos que não houve melhoria na representação dos
enfermeiros nos meios de comunicação de saúde nos últimos 20 anos. Embora
as mulheres sejam há muito sub-representadas nas notícias, os números estão a aumentar
- as mulheres foram utilizadas como fontes da noticia em 26% das notícias em
2015, contra 17% em 1997.
Então, queríamos descobrir o porque do maior grupo de profissionais de saúde - 90% dos quais são
mulheres - permanecer invisível nas notícias de saúde, apesar do crescente
número de enfermeiros com mestrado e doutoramento que são investigadores financiados
(…), administradores executivos e clínicos especializados.
Entrevistamos 10
jornalistas de saúde sobre as suas experiências na utilização de enfermeiros
como fontes para os seus artigos e encontramos um consenso em torno dos
seguintes temas:
1. Os jornalistas e as redacções geralmente têm
visões tendenciosas sobre as mulheres, a enfermagem e sobre cargos de
autoridade na área da saúde.
Isto inclui ter que justificar o uso de enfermeiras
como fontes aos editores supervisores que querem citar “doutores rock star”. A
maioria das redacções continua a usar um estilo (AP Stylebook), que permite o
uso de M.D. (Medical Doctor) após o
nome de um médico, mas não o RN (Registered
Nurse) após o nome de uma enfermeira. Se o director de um hospital for um
médico, você saberá disso pelo Dr. antes ou pelo M.D. depois do seu nome; Se o director é uma enfermeira, você provavelmente não saberá disso. Por que é importante
saber num caso, mas não em outro?
2. Os jornalistas disseram-nos que não entendiam
completamente aquilo que os enfermeiros fazem.
Eles não são os únicos. Até mesmo muitos médicos não
entendem a amplitude do conhecimento e competência que os enfermeiros têm, e
nem sempre fomos muito bons a explicá-lo. Um jornalista que entrevistamos
descobriu que os enfermeiros que trabalham com pessoas com diabetes são
excelentes fontes sobre o que é preciso para as pessoas gerirem melhor os
cuidados necessários com a sua diabetes - mas isto foi uma exceção.
3. O responsável pelas relações públicas de
organizações de saúde e universidades nunca recomenda uma enfermeira para a
entrevista de um repórter.
Às vezes, a equipa de relações públicas não fornece
uma enfermeira, mesmo quando um repórter solicita uma. Claramente, há trabalho
a ser feito com a educação do pessoal de relações públicas, bem como com os directores e outros líderes em cuidados de saúde, sobre o conhecimento que os enfermeiros
têm a oferecer. Uma jornalista que cobre problemas cardíacos disse-nos que ela
contacta com uma enfermeira especialista num departamento de cardiologia de um hospital
para obter informações e descobrir as nuances da história. Mas ela nunca pode
citar a enfermeira porque o director médico do serviço cardíaco é um daqueles
"doutores rock star" que insiste que apenas ele pode falar com os
Jornalistas.
4. A enfermagem não é experiente com os media.
Os jornalistas disseram-nos que quase nunca recebem “comunicados
de imprensa” de associações de enfermagem ou revistas de enfermagem sobre algo novo
ou cuidados de enfermagem inovadores. Os enfermeiros, de forma individual, podem
não responder a um pedido de entrevista em tempo útil ou podem querer permanecer anónimos. Portanto, há muito que a própria enfermagem precisa de abordar.
Gostaríamos de lembrar aos jornalistas de saúde que:
"Se você não está a entrevistar uma enfermeira, pode estar a perder a
melhor parte da história." As enfermeiras trazem perspectivas únicas
sobre as experiências de doentes e familiares com a saúde, doença e cuidados de
saúde. Muitos enfermeiros sabem muito bem o impacto que a saúde e a política
social podem ter na vida das pessoas. E eles sabem o que é necessário para
transformar um sistema de saúde disfuncional.
O
nosso conselho? (para os jornalistas)
Primeiro, discuta esses estudos na sua redacção e reflicta sobre os seus próprios relatórios.
Segundo, conheça as
associações de enfermagem da mesma forma que conhece as associações médicas.
Existem inúmeras associações de enfermagem gerais, especializadas ou étnicas, e
a maioria pode ajudá-lo a encontrar a enfermeira certa para a sua história.
Terceiro,
insista para que as equipas de relações públicas de uma universidade, (…) escola
de enfermagem ou de uma instituição de saúde encontre uma enfermeira para
entrevistar.
Finalmente, saiba que quando uma enfermeira não responde ao
seu pedido de entrevista, muitas outras estão prontas para responder.
O texto acima é um texto original de Diana J. Mason e Barbara Ann Glickstein, publicado a 08 de Janeiro de 2019 no Center for Health Journalism, e foi traduzido por Fernando Barroso para que mais facilmente possa alcançar as Enfermeiras e Enfermeiros portugueses. Todos somos responsáveis.
Fernando
Barroso
UM DIA SERÁS
TU O DOENTE!
#umdiaserastuodoente
Olá
ResponderEliminarExcelente artigo; obrigado!
Um tema que entendo deve fazer parte da Agenda da Ordem dos Enfermeiros!
Cumprs
Augusto
Olá outra vez...
ResponderEliminarParece que a revista Visão desta semana, teve conhecimento deste post...:-)
Ainda bem, digo eu.
Cumprs
Augusto
Viva meu caro Amigo.
EliminarTambém vi a capa da revista esta manhã. Ainda não comprei mas assim que consiga é o que vou fazer. Como vês, este "blog" é muito à frente... Um abraço.
Olá Fernando...
ResponderEliminarNão tenho qualquer dúvida disso, por isso o frequento ;-)
Abraço e continua este teu excelente trabalho!
Cumprs
Augusto
Muito obrigado por mais esta assertiva partilha com que nos habituaste!!
ResponderEliminarAbraço
Márcia Pacheco(Açores)
Obrigado Márcia, Ainda bem que gostaste. É muito importante passar esta mensagem e fazer ouvir a nossa voz.
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