A resistência bacteriana
aos antimicrobianos é uma problemática conhecida em todas as instituições de
saúde. A sua monitorização é fundamental para o controlo das Infeções
Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) e deverá ser tida como uma prioridade,
de forma a desenvolver processos de resposta rápida e eficiente.
Neste sentido o Programa de Prevenção e Controlo de
Infeções e Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) emanou estratégias
específicas de intervenção, onde se salienta a vigilância epidemiológica (VE). Esta carece da participação dos
hospitais e dos laboratórios de microbiologia nos sistemas de vigilância das
infeções, resistência aos antimicrobianos e consumo de antibióticos.
A VE é uma
estratégia fundamental do planeamento em saúde e desenvolve-se internamente nas
instituições através de um trabalho de parceria entre os serviços, o
laboratório de microbiologia, a farmácia e o grupo coordenador local (GCL) do
PPCIRA.
O laboratório
tem a responsabilidade de notificar o GCL PPCIRA e o Instituto Nacional de Saúde
Dr. Ricardo Jorge de todos os “microrganismos alerta” e “microrganismos problema”
identificados conforme expresso na norma da Direção Geral de Saúde (DGS) nº
004/2013 (https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0042013-de-21022013.aspx).
Esta
notificação é de carater obrigatório e permite aos hospitais a obtenção de
indicadores de forma automática por meio de uma base de dados sediada na
plataforma INSA-RIOS.
A par com este
trabalho, importa divulgar junto da equipa de saúde dados sobre o número de microrganismos isolados e suas
resistências aos antimicrobianos, monitorizando a sua tendência ao longo
dos anos, promovendo o benchmarking
intrainstitucional.
Uma das
ferramentas que os GCL PPCIRA pode adotar é a elaboração e divulgação anual da tabela de perfil de sensibilidades dos principais microrganismos isolados
“dentro” da instituição, permitindo aos profissionais de saúde terem um
fácil acesso ao(s):
- Principais microrganismos isolados no último ano;
- Número de amostras para cada microrganismo isolado;
- Perfil de sensibilidades aos antimicrobianos de cada microrganismo;
- Padrão de evolução das resistências antimicrobianas das bactérias identificadas;
- “Microrganismos alerta” notificados à DGS;
Neste sentido a tabela microbiológica é tida como uma informação para a ação, contribuindo
para uma prescrição médica mais segura, adequada
e eficaz. Esta informação deve promover a discussão interna das práticas de prescrição antibiótica, bem como a identificação de necessidades formativas.
Assim, a eficácia da tabela dependerá do plano de ação
traçado, ou seja das intervenções no terreno para promover e corrigir as
práticas de uso de antibióticos. As unidades de saúde devem operacionalizar o programa
de apoio à prescrição antimicrobiana (PAPA), tal como preconizado pela DGS.
A adoção destes programas leva à redução da prevalência da resistência aos
antibióticos e à redução de custos com os cuidados de saúde.
- Guia prático para a implementação de Programas de Gestão de Utilização de Antibióticos – Orientações Antimicrobianos: https://www.dgs.pt/programa-de-prevencao-e-controlo-de-infecoes-e-de-resistencia-aos-antimicrobianos.aspx.
A redução da taxa de IACS passa pelo
cumprimento das precauções básicas de
controlo de infeção e das precauções
baseadas nas vias de transmissão, a par com a correta utilização de antimicrobianos. Urge na atualidade a
necessidade de se reduzir a pressão
antibiótica, prevenindo todas as infeções evitáveis, não utilizando
antibióticos indeterminadamente, quando não existe infeção e reduzindo a
duração do tratamento ao mínimo indispensável.
Em conclusão, o GCL
PPCIRA do Centro Hospitalar de Setúbal tem vindo a elaborar anualmente a tabela de perfil de sensibilidade desde 2008, com divulgação a
todos os profissionais de saúde através da intranet, bem como da entrega em
formato postal, obtendo desde sempre um feedback positivo.
Felisbela
Barroso
Verónica
Florêncio
Boa Noite Sr. Enfª Fernando Barroso. Enquanto Enfermeira e única no GCL PPCIRA do meu ACeS continuo muito preocupada com o fraco investimento no acompanhamento destas estruturas nos ACeS e ausência de instrumentos/mecanismos, que nos ajudem a monitorizar/controlar as IACS em Cuidados de Saúde Primários. Nesta área específica o risco parece menor mas não é face à dimensão da população alvo de cuidados de saúde e graças à desvalorização dos profissionais relativamente às IACS na comunidade e resistência aos antimicrobianos. Quando pensa a DGS investir nesta área?
ResponderEliminarOlá Maria Antunes.
EliminarCompreendo e partilho da sua preocupação e angustia face à realidade das IACS nos cuidados de saúde primários.
A “última” que ouvi (de forma indirecta pois foi-me contado por alguém que esteve presente) foi relativamente a umas colegas pertencentes a um ACES onde, segundo elas “um dos 5 momentos preconizados pela OMS para a lavagem das mãos não se aplica”.
Quando a nossa incapacidade de compreensão está a este nível, não conseguindo “transpor” para as nossas realidades as recomendações que foram testadas e estudadas até à exaustão, encontrando alternativas “criativas” ou “inventando” desculpas para não fazer como nos recomendam, estamos de facto no mau caminho.
Quanto à sua pergunta que envolve a DGS, eu não posso responder-lhe nem para tal estou mandatado. Pode sempre colocar a questão directamente enviando-a para o email ppcira@dgs.pt
Obrigado pelos seus comentários.