domingo, 8 de março de 2020

Política, Dotações Seguras e Segurança do Doente | #SD380



E se, num exercício de pura imaginação, os serviços de saúde estivessem dotados com o número de profissionais adequado ao fluxo de trabalho habitual e existissem planos de contingência flexíveis para aumentar esse número em momentos de crise.

Eu sei. É imaginação. Alguns dirão até que é “uma ilusão”. Mas porque é que, não é assim?

Possíveis motivos:
1. Os responsáveis por libertar a verba necessária para a contratação não compreendem o que significa cuidar de um doente complexo, de um doente em estado grave, ou de um indigente com problemas psiquiátricos que é levado contra a sua vontade para dentro de um serviço de urgência que já não tem sequer macas próprias para o receber com dignidade.

2. Os Conselhos de Administração existem para “executar” da melhor forma possível a política definida pela tutela (ler novamente o ponto 1).

3. Na sua maioria os directores de serviço não compreendem as dificuldades dos outros profissionais sob a sua hierarquia funcional (leia-se Enfermeiros, Técnicos, Assistentes Operacionais, Assistentes Técnicos, entre outros).

4. As chefias intermédias (Enfermeiros Gestores, Técnicos Coordenadores, Encarregados Operacionais, Coordenadores Técnicos) não conseguem (ou não sabem) contabilizar o trabalho produzido, adequar os recursos existentes à carga de trabalho actual e prever as necessidades futuras.

5. Muitos dos profissionais de "primeira linha" desresponsabilizam-se dos seus deveres e não ajudam a resolver os problemas. 

6. As solicitações da população são cada vez maiores. Foi vendida a “falácia da vida eterna” em que os cuidados de saúde resolvem qualquer doença. E por mais que se alerte para as más práticas a maioria da população insiste em comportamentos de risco (comer alimentos pouco saudáveis, beber demasiado, fumar e não praticar exercício físico) negligenciando a sua própria saúde.

O sistema parece não ter solução.

A segurança do doente é definida como a redução do risco de danos desnecessários, relacionados com os cuidados de saúde, para um mínimo aceitável.

Para que esta definição seja aplicada todos temos de dar o nosso contributo.

No meu serviço (Consultas Externas) passaram no dia 03 de Março, pela sala de espera do balcão de atendimento, entre as 8h00 e as 11h00 mais de 300 doentes.

A capacidade instalada, a dotação de profissionais existente e as decisões indirectas tomadas por outros, em conjunto com a literacia em saúde da nossa população colocaram claramente em risco centenas de doentes e profissionais.

A segurança dos doentes deve ser a nossa principal preocupação todos os dias.

É urgente reservamos todos os dias algum tempo para reflectir sobre este assunto e perguntar:
- O que é que eu posso fazer, que esteja ao meu alcance, para melhorar a segurança dos meus doentes?


Fernando Barroso
UM DIA SERÁS TU O DOENTE!
#segurancadodoente

1 comentário:

  1. Olá
    Sim...todos somos peças importantes nesta engrenagem chamada Segurança do Doente.
    Cumprs
    Augusto

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