Aumentar a Cultura de Segurança do Ambiente Interno é o 1º objetivo
estratégico do Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2015-2020
(PNSD-15-20).
Na parte final deste artigo encontras quais as
estratégias que desenvolvemos para promover a participação dos profissionais do
CHS.
O QUE NOS DIZ O PNSD-15-20
O PNSD-15-20 refere que “A melhoria da cultura de segurança
do ambiente interno das instituições prestadoras de cuidados de saúde é um
imperativo e uma prioridade consignada na Estratégia Nacional para a Qualidade
na Saúde.”
Para alcançar esta melhoria, é adotada a recomendação da
Organização Mundial de Saúde do Conselho da União Europeia para que os
Estados-Membros procedam à avaliação da
perceção dos profissionais de saúde sobre a cultura de segurança da instituição onde trabalham, como condição
essencial para a introdução de mudanças nos seus comportamentos e para o
alcance de melhores níveis de segurança e de qualidade nos cuidados que prestam
aos doentes.
“A cultura de segurança
de uma instituição prestadora de cuidados de saúde é, segundo a Organização
Mundial da Saúde, para além de um estilo
e de uma competência de gestão, um produto de valores individuais e de grupo,
de atitudes, de perceções e de padrões de comportamento, que determinam o
compromisso dessa instituição para com a segurança dos doentes.”
Ou seja, a segurança do Doente de uma instituição resulta do
conjunto da “cultura individual de segurança do doente” de cada um dos seus
profissionais, desde o profissional de “1ª linha”, aos profissionais dos
serviços de apoio e á gestão do topo da instituição. Assim, cada instituição
possui a sua própria cultura de segurança.
Podemos argumentar que essa cultura de segurança é mais ou
menos propicia à promoção de cuidados seguros para o doente. O que não podemos
afirmar é que “não existe” uma cultura de segurança.
O PNSD-15-20 determina que “A avaliação da cultura de
segurança dos doentes, em Portugal, irá decorrer anualmente, de forma
alternada, nos hospitais e nos agrupamentos de centros de saúde. Em 2018 esta
avaliação vai ocorrer nos hospitais.
Esta avaliação é realizada com base na aplicação do Hospital Survey on Patient Safety Culture
da Agency for Healthcare Research and
Quality dos Estados Unidos da América, traduzido e adaptado ao contexto
português.
Trata‐se de um questionário autopreenchido, com uma distribuição
multidimensional (12 dimensões), composto por 42 itens, incluindo, ainda, duas variáveis
de item único: Grau de Segurança do Doente e Número de Eventos Notificados nos últimos
12 meses.
As dimensões
avaliadas são:
1. Trabalho em equipa
2. Expectativas do supervisor/gestor e acções que promovam a
segurança do doente
3. Apoio à segurança do doente pela gestão
4. Aprendizagem organizacional - melhoria contínua
5. Percepções gerais sobre a segurança do doente
6. Feedback e comunicação acerca do erro
7. Abertura na comunicação
8. Frequência da notificação de eventos
9. Trabalho entre as unidades
10. Dotação de Profissionais
11. Transições
12. Resposta ao erro não punitiva.
No PNSD-15-20, é enfatizada a necessidade duma ampla adesão
dos profissionais das instituições de saúde a esta metodologia.
É solicitado de forma directa às direcções clínicas, aos conselhos
clínicos e de saúde e às comissões da qualidade e segurança, que promovam a
adesão dos seus profissionais à avaliação da cultura de segurança dos doentes. Em 2014 (últimos
dados disponíveis), a taxa de adesão
nacional foi de 18,3%.
À DGS foi atribuída a competência de definir os
valores-padrão das taxas de adesão das instituições à avaliação da cultura de
segurança dos doentes e dos valores-padrão nacionais para as várias dimensões.
À Administração Central do Sistema de Saúde compete incluir
os valores-padrão nas metas dos contratos programa das instituições prestadoras
de cuidados de saúde.
No PNSD-15-20 foram definidas as seguintes Metas para o final de 2020:
1). Atingir uma taxa
de adesão nacional à avaliação da cultura de segurança ≥ 90%.
2). Atingir uma média
nacional ponderada de todas as dimensões do questionário da avaliação da
cultura de segurança do doente ≥ 50%.
QUAL A EXPERIÊNCIA DO CENTRO HOSPITALAR DE SETÚBAL, E.P.E.
No Centro Hospitalar de Setúbal E.P.E. realizámos um
primeiro estudo em 2013, tendo os dados obtidos sido aceites pela DGS, após
validação da metodologia utilizada. Nesse estudo, obtivemos uma taxa de adesão por parte dos profissionais
de 30,45%.
A estratégia de divulgação interna envolveu
vários componentes:
- Divulgação inicial do estudo do através da Circular Interna do CHS, na qual era divulgado o link de acesso para resposta ao questionário;
- A informação foi também divulgada através de uma mensagem interna dirigida a todos os Profissionais do CHS com correio electrónico institucional;
Como estratégias de divulgação/promoção
adicionais:
- Foi solicitado às hierarquias dos Serviços do CHS colaboração na divulgação do estudo e apoio no acesso a um computador para os profissionais que não utilizam este equipamento regularmente no desempenho das suas funções;
- Para maximizar a taxa de respostas, relembrar e incentivar à participação no estudo, foram enviados a cada semana lembretes (por correio eletrónico e mensagem na intranet do CHS);
- O grupo de trabalho esteve sempre disponível para apoiar todos os profissionais/serviços no preenchimento do questionário;
- O questionário esteve disponível para preenchimento durante o mês de outubro de 2013 nos dois hospitais que constituem o CHS.
A recolha e
análise dos questionários foi feita pelo grupo de trabalho, através de um link para um formulário on-line, o qual garante a confidencialidade
e o anonimato de todas as respostas.
OS RESULTADOS POR
DIMENSÃO FORAM OS SEGUINTES:
Dimensão 1 Trabalho em Equipa (68%);
Dimensão 2 Expetativas do
supervisor/gestor e ações que promovem a Segurança do Doente (62%);
Dimensão 3 Apoio à Segurança do Doente
pela gestão (45%);
Dimensão 4 Aprendizagem Organizacional –
melhoria contínua (70%).
Dimensão 5 Perceções gerais sobre a
Segurança do Doente (57%);
Dimensão
6 Comunicação e feedback acerca do erro (59%).
Dimensão 7 Abertura na Comunicação (55%);
Dimensão 8 Frequência da notificação (48%);
Dimensão 9 Trabalho entre unidades (46%);
Dimensão 10 Dotação de profissionais (39%);
Dimensão 11 Transições (50%);
Dimensão 12 Resposta ao erro não
punitiva (34%);
De salientar que os resultados obtidos estavam perfeitamente
“em linha” com os resultados de outros estudos (nacionais e internacionais)
conhecidos.
Sobre a questão do nível
de adesão, já em 21 de Janeiro de 2017 publiquei um artigo (que vos convido
a ler ou a reler) com a minha análise - SD240- Baixa Participação dos Profissionais na Avaliação da Cultura de Segurança doDoente. Devo ficar preocupado? – considerando que na verdade, a percentagem
de adesão pode não ser assim tão importante.
Mas mais do que a “taxa de adesão” era importante implementar
as medidas sugeridas de promoção da
cultura de segurança.
Para além de
várias recomendações por dimensão, e com base em toda a informação recolhida, o
Grupo de Trabalho identificou como prioritárias
as seguintes recomendações a implementar
no Centro Hospitalar de Setúbal:
- Promover os instrumentos institucionais existentes (Normas de Orientação Clínica, Políticas e Procedimentos) que contribuem para a promoção da Segurança do Doente, garantindo a sua divulgação, aplicação, auditoria e revisão regulares;
- Incentivar a notificação dos incidentes e a sua discussão multidisciplinar nos Serviços/Unidades numa perspectiva positiva de aprendizagem com o erro, identificação de oportunidades de melhoria e implementação de medidas correctivas;
- Promover a formação interna de todos/as os profissionais, sensibilizando e desenvolvendo competências em segurança do doente, gestão do risco e melhoria da comunicação;
- Abordar o tema da Segurança do Doente como uma oportunidade de melhoria da equipa multidisciplinar, destacando a importância da comunicação interna e entre Serviços/Unidades;
- Promover o envolvimento e informação do doente/família.
Este é o caminho que temos vindo a realizar.
Estamos assim no ano (2018) em que deveremos reavaliar a
nossa cultura de segurança do doente.
É com expectativa que o faremos, revendo as nossas
estratégias de divulgação para conseguirmos aumentar a nossa taxa de
participação.
E agora solicito a tua participação:
- Na tua instituição já procederam à aplicação do estudo?
- Qual o resultado da taxa de adesão?
- Que estratégias consideras terem sido mais eficazes para promover a participação dos profissionais?
Partilha connosco as tuas ideias, comentários e sugestões.
UM DIA SERÁS TU O DOENTE!
#umdiaserastuodoente
Fernando Barroso
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