O Nationwide Children's Hospital em Columbus, Ohio,
estava a debater-se com um problema de segurança do doente, idêntico a tantas
instituições portuguesas. Verificava-se uma baixa percentagem de conformidade com a higiene das mãos.
Foi então experimentado
um método “militar”, o “safety
stand-down”, que pode traduzir-se como um “Briefing de
Segurança”, momento em que todas as actividades não essenciais do
Hospital/Instituição são suspensas em todos os Serviços para que sejam
discutidos planos de acção que promovam a higiene das mãos com vista a uma
melhoria da segurança do doente.
A história detalhada
encontra-se publicada no Journal
of Patient Safety.
A questão remonta a
2010 quando o hospital verificou um pico de infecções associadas aos cuidados
de saúde, o que estimulou um foco renovado sobre a higiene das mãos. Uma observação
à prática diária encontrou uma taxa de cumprimento do hospital de
aproximadamente 65%.
Depois de melhorar o
acesso dos trabalhadores de saúde aos produtos de higiene das mãos, o hospital
organizou uma “Conferencia de Líderes
para a Segurança e Higiene das mãos”, com a participação de todos os chefes
de departamento, chefes de enfermagem e directores de departamentos auxiliares.
Nesta conferência, os executivos discutiram a importância da higiene das mãos e
desenvolveram um plano de acção para
a sua unidade com o objectivo de melhorar a conformidade relativamente à
higiene das mãos.
Esta conferência também
preparou os líderes para o “Briefing de
Segurança / Stand-down”, um termo emprestado dos militares em que a diminuição
da actividade permite aos líderes de cada serviço falar com os trabalhadores da
linha de frente para discutir questões de segurança. No hospital, isso
significava que em cada Departamento/ Serviço / Unidade os trabalhadores de saúde
suspendem todo o trabalho não essencial para discutir como melhorar a higiene
das mãos naquela unidade.
De acordo com o estudo a
“atenção” e “ruído” associados à paragem
de toda a actividade clínica não essencial captou a atenção do pessoal do
hospital e deixou claro que esta acção era importante para todos".
O plano de melhoria transversal
a todo o hospital incluía outras acções tais como:
- As Chefias de Departamento ou Serviço cujas unidades
registavam conformidade inferior a 90% tinham de reunir com o Director Clínico
ou Director de Enfermagem para discutir o desempenho.
- Todo o
pessoal do hospital que foi considerado incumpridor com as normas de higiene
das mãos era chamado a reunir directamente com o Director Clínico ou Director
de Enfermagem na primeira e segunda falha. Na terceira infracção, era registado
uma nota de incidente crítico no seu arquivo pessoal.
Ainda de acordo com o
estudo, após o “Briefing de
Segurança / Stand-down”, a
conformidade de adesão à higienização das mãos subiu de menos de 60% para 94%,
um aumento estatisticamente significativo. E, com apenas duas excepções, a
conformidade global da higiene das mãos tem sido superior a 90% nos últimos três
anos e meio.
O estudo conclui que "Este programa pode ser facilmente
implementado, os custos pouco, e é relativamente não punitivo." "Nós
sugerimos que outras organizações que ainda lutam para alcançar altos níveis de
adesão à higienização das mãos utilize esta técnica relativamente simples para
melhorar os seus resultados."
Esta “experiencia” é
fruto de uma cultura institucional e individual que tem de ser trabalhada.
A realidade em Portugal
pode considerar-se muito diferente, por exemplo entre Instituições Públicas e Privadas
onde o que é permitido e o que não é assume contornos, por vezes extremos.
Veja-se a realidade das
unhas de gel ou a forma como o “fardamento” é interpretado por diferentes
Instituições e respectivos profissionais.
Em todo este processo
não há ninguém isento de responsabilidades.
Cada profissional é responsável pelos seus actos e por aquilo que
aprendeu durante a sua formação base. Passar
de aluno a profissional não pode significar o abandono de regras de higiene e
segurança do doente.
Se essa formação não
foi realizada de forma formal (o que pode ocorrer por exemplo com os
assistentes operacionais), é responsabilidade
da instituição promover essa formação
e respectivas orientações
internas.
Cabe depois aos responsáveis das instituições, a todos os níveis, ser o garante do seu cumprimento e exemplo para os profissionais que
lideram.
Fica aqui a experiência
da Nationwide
Children's Hospital no seu caminho em benefício da segurança do doente.
Produzido com base em material do Journal
of Patient Safety
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Fernando Barroso
olá
ResponderEliminar«Pagar pelos erros cometidos»....Punição!
Provavelmente a forma mais eficaz de se obterem resultados...infelizmente.
Cumprs
Augusto
Meu Amigo. É verdade que a maioria cumpre e faz um esforço consciente para estar de acordo com as boas práticas, mas também é verdade que há muitos que simplesmente "não querem saber" colocando em causa tudo o que os outros constroem, e pior ainda, a segurança dos doentes.
EliminarE sobre isto não posso escrever muito mais sob pena de ser mal interpretado...
Abraço.
Olá
ResponderEliminar«Eternamente», os «Donos do Saber».....
Provavelmente só mudarão comportamentos e atitudes quando estiverem «do outro lado da barricad».
Cumprs
Augusto
Reconheço absolutamente a importância do exemplo dos modelos como reforço de comportamentos positivos. No entanto a profissão integra valores éticos e deontológicos de ordem superior que a suportam e que se constituem como drivers comportamentais e estruturais que sustentam o livre arbítrio. Logo as medidas de prevenção e controlo de infecção são sobretudo questões de consciência profissional, não passiveis de absolvição por exemplos negativos.
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