Uma colega
(elemento de um grupo com a responsabilidade na gestão de incidentes) de uma Instituição colocou-me várias questões relacionadas
com a dificuldade, na sua instituição, de adesão ao Notific@ e à possibilidade
de promover um sistema interno de notificação de incidentes.
Partilho
convosco a minha resposta.
“(…) Começo por
partilhar um link com a informação que tenho publicado, relacionada com a
temática dos “incidentes” - http://risco-clinico.blogspot.pt/search/label/Incidentes - No Blog encontra obviamente
outros temas.
Quanto às
questões colocadas:
Também no
CHS era grande a resistência no início (aquando da implementação do nosso
sistema interno). Também ninguém tinha "tempo" para escrever a
notificação, mas acima de tudo, não existia a consciência do quanto um sistema
deste tipo pode ajudar todos os envolvidos, isto se o tratamento e análise dos
relatos tiver em consideração os seguintes princípios:
- centrado no sistema;
- existir uma resposta rápida (o rápido por variar tendo em conta cada tipo de incidente);
- envolvimento dos profissionais;
- visibilidade das medidas corretivas;
- apoio da gestão (a todos os níveis).
A verdade é
que sem se começar, não é possível demonstrar os enormes benefícios dos
sistemas de notificação. Lembro-me de que quando começamos no CHS tínhamos 75
notificações num ano. Hoje temos esse número por mês...
O Notific@ é uma ferramenta pela qual
tenho sentimentos mistos (uma vez que estive envolvido na equipa que o
desenvolveu). Por um lado considero que é uma ferramenta muito válida e que
"protege" o notificador. Por outro torna difícil ao gestor local da Instituição proceder a uma análise pormenorizada (por escassez de
informação). A verdade é
que (…) não foi possível ir mais longe.
Mas a ferramenta existe e está disponível,
sendo ainda a única forma de agregar num único local toda a informação sobre os
incidentes clínicos que ocorrem em Portugal. Cada instituição deve por isso
garantir que tem o seu Gestor Local nomeado e com acesso ao sistema.
A opção de
criar um sistema interno de notificação (ou de o comprar) é decisão da
Instituição. Mas é inquestionável que essa opção permite maior informação e
maior controlo interno.
O desafio é
encontrar as pessoas certas para gerir o sistema e desenvolver as metodologias
de análise (centradas no sistema e não nos indivíduos) e criar boas
ferramentas, nomeadamente uma base de dados para recolha e agregação da
informação e um formulário de relato.
Na prática
um formulário de relato é algo muito simples.
Campos
indispensáveis:
- Data do incidente
- Hora do incidente
- Local do incidente (pode ser um local diferente do Serviço de origem do notificador)
- Campo para descrição (texto livre) do incidente. Aqui é importante contrariar os textos longos e exageradamente descritivos (é um caminho que se faz aos poucos).
- Campo para identificação do notificador (Pessoalmente sou completamente contra sistemas de relato com texto livre e anónimos. Esse é um convite para o ataque pessoal e outros comentários muito perigosos. O sistema é confidencial mas não deve ser anónimo.
- Campos opcionais:
- "Tipologia" do incidente, de acordo com a Classificação Internacional para a Segurança Do Doente (para o risco Clínico) e criar a vossa própria tipologia para o risco não clinico (não existe uma lista consensual que possa indicar).
- Outros que achem necessários (o menor possível, para facilitar o preenchimento pelo notificador).
Para a
análise, deve apostar desde o início num grande contacto com os envolvidos, empenhando-se
fortemente na análise do sistema (metodologias de trabalho, procedimentos, etc.).
"Se não está escrito, tem de estar" para que todos saibam quais são
as "regras".
Sugiro ainda
que o Grupo (de análise Interno) escreva o seu "Regulamento Interno" e o divulgue de forma ampla na
Instituição. Assim todos sabem com o que podem contar.
O passo
seguinte é apostar na formação interna
(Dos elementos da Equipa de análise, dos Interlocutores e das Hierarquias)."
Foram estas as
minhas sugestões.
E tu, tens
um sistema interno de notificação? Como foi a sua implementação? Quais são as
dificuldades e como foram ultrapassadas?
Olá
ResponderEliminarVou então responder ás questões colocadas, pela ordem em que foram formuladas:
1- Sim, temos....e já tem alguns anos.
2- Aproveitámos o modelo em papel de Notificação de Risco Geral , adaptámo-lo ao Risco Clínico e criámos a nossa própria versão. Regulamentámos a operacionalidade do Sistema através da criação de Procedimentos que divulgámos pela instituição. Mais tarde criámos uma plataforma informática para a Notificação de Risco, estamos permanentemente a actualizá-la com novas funcionalidades e neste momento temos mais do que um modelo de notificação por forma a que, por exemplo, as Quedas e os «Adultos Vulneráveis» tenham um tratamento próprio.
3-Dificuldades não tivemos...LOL
Claro que tivemos, nomeadamente as actualizações da plataforma que pedíamos «para ontem» e que demoravam uma eternidade...
Outras das dificuldades é a pouca celeridade nas respostas, quer do «Notificado» quer muitas vezes do «Notificante», o que pode provocar atrasos na oportunidade das «medidas a implementar».
Gostaríamos também que o exemplo de alguns Serviços que aproveitam os dados dos Relatórios para produzirem trabalhos de Qualidade, fosse seguido por muitos mais Serviços...
Para o Futuro, estamos a apostar em mais notificações dos «Quase...» e menos nas «queixas do outro»...
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Passados estes anos (mais de 4) em que temos o sistema interno informaticamente implementado, o peso das nossas 6500 Notificações ( Quedas incluídas) permite-nos sugerir que, muito provavelmente o modelo a seguir será o da Notificação Interna com posterior partilha automática da informação com o Notific@. Creio no entanto, que será importante garantir o anonimato do Notificante, aquando da migração dos dados para o Notific@.
Em suma, um Sistema de Notificação constitui-se como mais um direito, dos Doentes...e dos Profissionais que os cuidam.
Cumprs
Augusto
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Offtopic: Fernando, creio que o link do texto nos reencaminha para este post.
Obrigado Augusto pelos teus comentários sempre pertinentes e pela partilha.
EliminarTambém acredito que o caminho passará pela agregação dos dados internos de cada Instituição e a sua centralização na DGS. Veremos o caminho que será feito.
O link encaminha para todos os post's com a etiqueta "Incidentes", sendo este (o atual) o que aparece em 1º lugar.
Um Abraço
Bem me parecia que seria «maçariquice minha»....:-)
ResponderEliminar__
Relativamente ao post, quando falas em centralização na DGS, foi esse o trabalho feito em 2014, relativamente aos dados de 2013, ou seja, o Relatório da DGS resultou da junção dos dados do SNNIEA com os dados dos sistemas internos das instituições.
Abraço
Nós temos um sistema de notificação interno e que funciona muito bem (aplicação já bastante divulgada. não coloco nome, por reserva comercial). Nos quase quatro anos da sua implementação, todos os anos existe um aumento do número de registos (120% no último ano!)
ResponderEliminarAssenta na base do registo de 16 tipo de incidentes (OMS) mais um item "outros" e outro com eventos sentinela. O profissional pode efetuar o registo com acesso em anónimo ou identificado. Existe um grupo de análise conforme o tipo de incidente registado. Toda a informação é analisada, são desencadeadas ações corretivas e/ou preventivas (conforme a situação), definidas responsabilidades de implementação das mesmas e depois calendarizada uma data de avaliação da eficácia das mesmas.
Todo o processo é gerido pelo gestor de risco clínico e não clínico.
Boas,
EliminarPode indicar o nome da aplicação? :)