segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Um Abandono na Consulta Externa | #SD426

Hoje, uma doente com mais de 80 anos chegou ao serviço de consulta externa trazida pelos bombeiros. A doente chegou transportada numa cadeira de rodas do lar onde se encontra. Uma cadeira enferrujada, sem apoio de pés, e sem apoio de cabeça.

Uma doente, com várias comorbilidades, obesa, e com aparente falta de ar. Foi colocado oxigénio à doente.

O bombeiro não trazia qualquer documento de identificação da doente. Tinha apenas um documento do lar onde a senhora se encontra, com o seu nome a posologia da medicação que toma e o contacto do lar.

- “É sempre assim neste lar”, afirmou.

 

O Bombeiro dirigiu-se a receção e informou que ia deixar a senhora na sala de espera.

Nenhum outro acompanhante estava com a doente

 

Foi a Assistente Técnica que impediu o bombeiro de se ir embora.

- Não se deixa uma doente incapaz sozinha.

 

No sistema informático não existia qualquer consulta prevista para esta doente

Foi contactado o lar, não sabiam o que a doente vinha fazer.

 

Após alguns minutos foi possível descobrir que a doente tinha afinal agendado para hoje a colheita de sangue para análises

O que fazer?

 

A doente, aparentemente desorientada, apenas pedia um apoio para a cabeça e que o leite fosse “fresquinho”. Simplesmente não sabia onde estava.

 

Foi dada a indicação ao bombeiro para levar a senhora de volta ao lar. Sem acompanhante era impossível conseguir que a doente ficasse na central de colheitas para fazer análises. Sozinha não iria conseguir e não estava ninguém com ela. Não iria fazer as análises de que provavelmente muito necessita.

 

Por muito que os hospitais queiram, em situações como esta, a segurança do doente começa muito antes do doente chegar à instituição.


Não consigo entender este jogo do empurra, do horrível "isso não é comigo" ou do "não quero saber, não é minha responsabilidade".


Mas afinal o que é que estamos aqui a fazer?

 

Sei que muitos dirão que esta história é comum, até “habitual

Mas eu não consigo esquecer e não consigo deixar de me sentir impotente.

Telefonei à filha da doente, contei o que se tinha passado e pedi-lhe que se interessasse pela sua mãe e que a acompanhasse nestas vindas ao hospital.


Um dia seremos nós sentados naquela cadeira.


Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

1 comentário:

  1. Olá
    Sim...infelizmente é uma situação recorrente, por parte dos «Lares» e pela parte dos bombeiros. Não serão todos, mas um que seja é inadmíssível.
    No caso relatado, quer-me parecer que um pouco de profissionalismo dos intervenientes teria resolvido a situação sem prejuízo para a doente.
    O meu aplauso pela tua atitude!
    Cumprs
    Augusto

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