Hoje assisti a uma ação de
formação dirigida a Assistentes Operacionais (provavelmente o grupo profissional mais desprotegido do setor da saúde) com o tema "Cuidados
de Higiene e Conforto".
Fui assistir a esta formação porque
eu próprio, há 12 anos atrás, também participei como formador em iniciativas
semelhantes (há dias enviaram-me uma fotografia de um desses momentos).
De forma muito correta e assertiva,
a Enfermeira que deu a formação transmitiu a ideia de que existe uma forma
correta de fazer as coisas, e que essa forma correta deve ser para nós (Enfermeiros e Assistentes Operacionais) uma
prioridade, respeitando a vontade e individualidade do Doente.
Mas, o que mais me impressionou
foram os constantes relatos dos Assistentes
Operacionais presentes que afirmavam que o estava a ser proposto era quase impossível de concretizar.
Uns afirmavam não possuir o
equipamento necessário (fosse roupa, uma simples cadeira para usar de apoio ou
mesmo uma cama ou maca ajustável em altura).
Mas outros focaram algo mais
preocupante - a falta de
apoio/supervisão do Enfermeiro responsável pelo doente relativamente aos
cuidados de higiene.
Os relatos foram abundantes e
sentidos. Alguns ditos com revolta e
indignação. Aqueles que têm responsabilidades na supervisão dos cuidados
nos serviços foram também amplamente responsabilizados, principalmente pelo que
deixam que aconteça.
Num momento especialmente difícil
em que são pedidos aos Serviços/Profissionais mais e diferentes exigências, não
podemos desresponsabilizar-nos dos cuidados de higiene dos Doentes,
atribuindo-lhes pouca ou nenhuma importância.
Quantas vezes ouvimos a frase “tenho
imensas coisas que fazer”, para depois encontrar esse mesmo profissional a “descansar”,
enquanto o outro (elemento da equipa multidisciplinar) fica a “fazer higienes”
sozinho, colocando em risco o doente e a sua própria saúde?
O que mais de entristeceu foi
perceber que, passados 12 anos, as
questões colocadas são as mesmas e que a maioria daqueles que realmente
poderiam mudar alguma coisa não faz a menor ideia disso.
É por isso que defendo graus
elevados de exigência, a todos os níveis
e não apenas sobre aqueles que estão “abaixo” de mim. É por isso que às vezes fico tão “zangado”.
Haverá muitos colegas que não se revêem
neste “desabafo”. Reconheço isso e conheço (felizmente) muitos deles, mas também
conheço os outros.
Em última análise, o principal
prejudicado é o doente, aquele que jurei cuidar com dignidade e respeito. A única
razão da minha existência como Enfermeiro. E não esquecendo isso, não podia
deixar hoje de partilhar este desabafo…
Olá
ResponderEliminarQue triste fico ao ler estas palavras...
Infelizmente, cada vez mais as nossas Faculdades de Enfermagem formam mais «doutores» do que cuidadores...
Que os Supervisors Clínicos tênham vontade e força para, de algum modo, contrariarem esta tendência, é a minha esperança.
Seja em que «análise» for...o Doente é sempe o principal pejudicado.
Estou contigo neste desabafo!
Cumprs
Augusto
Não sei se isso que diz das faculdades é verdade... Eu própria terminei o curso há 2 anos e ainda tenho muito presente a importância das higienes... Ainda me lembro que aprendi que estas são responsabilidade do enfermeiro... O problema é que depois os alunos chegam ao estágio e vêm os enfermeiros perceptores sentados com os colegas, enquanto eles fazem as higienes com as auxiliares... Quando fiz estágio na Medicina, lembro-me perfeitamente que a passagem de turno acabava às 9, nós alunos iamos logo preparar medicação e fazer as higienes, e a enfermeira perceptora ia "tomar o pequeno-almoço" e voltava às 10, que era quando ia ver a medicação e dizer-nos que estava ok para administrar... (Repare-se que esta medicação era a das 9). Depois ela ia para a sala de Enfermagem a manhã toda e nós ficávamos a fazer higienes até ao meio-dia... O grande problema é que muitos colegas se esqueceram que a higiene do doente é da nossa responsabilidade, e a consideram uma tarefa pouco dignificante (daí o despachá-la para as auxiliares). E os alunos vêm estes exemplos e começam a imaginar (e quantas vezes não ouvi eu isto dos meus colegas de curso), que quando forem enfermeiros já não têm que fazer higienes... E é uma pena termos que generalizar, quando na verdade existem tantos bons profissionais, que fazem higienes, que trabalham em equipa com as auxiliares, que proporcionam os melhores cuidados aos doentes... Mas lá está... Os maus exemplos são sempre os que saltam à vista... E muitas vezes os alunos acabam por os seguir... É triste, mas é o que acontece... A culpa não é das faculdades... A culpa é dos enfermeiros que têm esta postura, e que mesmo que não a incutam directamente aos alunos, se esquecem que para os alunos eles são um exemplo a seguir e têm estas atitudes pouco exemplares... Que claro, os alunos acabm por seguir... =/
EliminarOlá
ResponderEliminarCaro anónimo, fico muito feliz por ficar a saber que a sua realidade é muito diferente daquela que eu referi no meu post.
Do seu post, que li com atenção, permita-me que retire algumas frases para reflexão:
« E os alunos vêm estes exemplos e começam a imaginar (e quantas vezes não ouvi eu isto dos meus colegas de curso), que quando forem enfermeiros já não têm que fazer higienes»
«...existem tantos bons profissionais, que fazem higienes, que trabalham em equipa com as auxiliares, que proporcionam os melhores cuidados aos doentes.»
« A culpa não é das faculdades... A culpa é dos enfermeiros que têm esta postura, e que mesmo que não a incutam directamente aos alunos, se esquecem que para os alunos eles são um exemplo a seguir e têm estas atitudes pouco exemplares».
Cumprs e votos de que consiga resistir...sempre....aos maus exemplos.
Os doentes merecem-no.
Augusto
A higiene, como a alimentação são cuidados básicos (considerando a pirâmide de Maslow) e que como tal têm influência em todos os denível superior. Quando não é feita uma correta super-visão destes aspetos - sejam eles executados por assistentes operacionais, pelos pais (nas pediatrias) ou pelos próprios doentes, está em risco a segurança do doente. São alterações cutâneas que não são observadas, feridas cirurgicas que não são monitorizadas em contexto mais natural, relação de proximidade que não se estabelece/fortifica, erros de dieta potencialmente sérios (alergia alimentar, diabetes, HTA...).
EliminarÉ lamentável que alguns enfermeiros (independentemente dos anos de experiência) se esqueçam que "a enfermagem é uma arte, e´para ser feita com arte precisa de uma devoção exclusiva e de uma dura preparação, tal como o trabalho de um pintor ou excultor.; Pois o que é trabalhar com tela morta ou mármore frio, comparado com trabalhar o corpo humano, templo do espírito de Deus? É uma das belas artes, quase diria a mais bela das artes." florence Nithingale.
Desculpem a lamechice, mas tomo o pequeno almoço em casa e não fumo, por isso continuo a acreditar hoje como à 20 anos quando terminei o curso ou aos 7 anos quando decido que queria ser enfermeira. Se calhar é esse o problema... Decidir que se quer ser enfermeiro...
Olá
ResponderEliminarConcordo com a colega que escreveu o post anterior...
Sim, nos dias de hoje, o problema está mesmo em «decidir ser Enfermeiro».
Mais....creio mesmo que os Enfermeiros que o são porque assim decidiram, percebem qual a discussão que está em cima da mesa....a importância de os enfermeiros assumirem a responsabilidade das AVD(s) dos seus doentes.
Cumprs
Augusto