quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Se a AUDITORIA é uma FARSA, então não faças!

Em conversa informal com uma formanda do curso de auditoria clínica, ela comentou:

- Quando se faz auditoria à higiene das mãos, os profissionais ainda gozam e fazem um teatro a cumprirem as boas práticas. Quando ninguém está a auditar, muitos deixam de higienizar as mãos

Este tipo de atitude é revelador do nível de cultura de segurança do doente deste serviço.

As boas práticas existem suportadas em saber científico e na melhor evidência e prática clínica.

Saber como se deve proceder e não o fazer é um ato negligente, que coloca em risco o doente.

Não basta fazer bem algumas vezes. Temos de fazer bem sempre.

Para ultrapassar esta dificuldade há que encontrar outras formas de auditar, menos exuberantes, para conseguir recolher evidências da realidade, e com os seus resultados consciencializar os profissionais.

Também não devemos esquecer a necessidade de uma maior intervenção do superior hierárquico, que detém responsabilidades específicas na defesa e garantia da segurança do doente, sempre que isso se revelar necessário.

Não basta defender uma cultura de segurança também temos de implementar uma cultura justa. Saber elogiar quem cumpre e penalizar quem simplesmente “não quer saber”.

Se a AUDITORIA é uma FARSA, então não faças!


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domingo, 22 de setembro de 2024

Alerta - Relato difícil da perda de um filho (ou a Insensibilidade de alguns Profissionais de Saúde)


Nem todos os profissionais de Saúde, mas sempre um profissional de Saúde(*)

Em 48 horas tivemos a informação de que estava tudo bem com a nossa filha. De que afinal não estava. E agora que faríamos um feticídio, sem qualquer aviso ou preparação para tal.

Antes de mais: a minha profunda gratidão a todos os profissionais de saúde que cuidam dos seus doentes com eficiência, vocação, rigor e…empatia.

O título deste artigo prende-se precisamente pela, cada vez maior, escassez desta última característica.

Todos os dias somos bombardeados com várias notícias que nos fazem constatar o óbvio: os serviços de saúde em Portugal estão sobrecarregados. São listas de espera intermináveis, urgências a fechar, falta de recursos humanos. O sistema — por motivos variados — não funciona tão bem quanto devia.

As consequências são várias, mas um episódio recente fez-me “regressar ao passado” e voltar a lidar com um em particular: a total falta de empatia com os doentes.

Sim, é verdade que são milhares os doentes que passam por cada unidade de saúde diariamente. Cada um com os seus males e maleitas. E se essa maleita parece gravíssima ao doente, é “só mais uma” para quem o atende.

Segundo o Relatório de Saúde STADA 2023, que entrevistou 2.000 pessoas em Portugal, 74% da população portuguesa estava satisfeita com o serviço nacional de saúde em 2021. Este valor baixou para 53% em 2023. A tendência é continuar a descer.

Não farei distinção entre o serviço privado e o público pois, a meu ver, a linha que os separa é cada vez mais ténue.

Bem, vamos ao tal episódio. Uma história banal: uma amiga de longa data, nos seus 40 anos, decide que quer engravidar. Marca uma consulta para ver se está tudo bem com ela e com o seu companheiro.

O que não é banal nesta história: esta amiga já perdeu uma filha com uma doença genética raríssima. A mãe tem, portanto, este gene e, para saber se pode avançar ou não com uma gravidez, precisa de saber se o seu companheiro, que nunca teve filhos, também o é.

Feitos os exames (caros, por sinal), têm agora que aguardar 5 semanas pelos resultados. Findas as 5 semanas, não há resultados. A ansiedade começa a instalar-se. O laboratório ainda não os tem e ao telefone é dito que “não sei porque não temos os resultados. Conte com eles só daqui a 10 dias”.  Respiremos fundo. Atrasos acontecem.

Um breve resumo: foi feito o primeiro estudo genético e, devido aos resultados, a médica – sem informar a doente — pediu um segundo estudo. Ao telefone, ao perceberem a ansiedade da minha amiga com esta situação, alguém fez questão de dar a seguinte informação: “Foi mesmo necessário este segundo estudo. A médica depois explica…e vocês enquanto casal terão que tomar uma decisão”.

Calma, vamos com calma. Uma decisão? Que decisão? Que diz nesse estudo que os fará, enquanto casal, terem que tomar uma decisão?!

Não há respostas do outro lado, mas há nesta doente — que é uma mãe que já perdeu uma filha — um reviver do passado e um desespero que se instala. Será possível que terá que passar por esta situação novamente?

Em março de 2022, era eu a futura mãe em desespero. Ao fim de uma hora numa consulta de ecografia, sem o médico proferir uma palavra, é me dito que não está tudo bem e devo entregar com urgência o relatório da ecografia ao meu médico de família.

No mesmo momento, dirijo-me ao centro de saúde. O médico respondeu-me que, pelo que ele viu, estava tudo bem e era um manifesto exagero de quem tinha feito a ecografia. Só para não haver nenhum problema, iria pedir-me uma consulta para a Maternidade Alfredo da Costa.

Poderia dizer que senti alívio nesse momento, mas não é verdade. As dúvidas e a ansiedade de uma mãe de primeira viagem instalaram-se. Saí do centro de saúde e dirigi-me ao Hospital da Luz para fazer uma nova ecografia.

Expliquei a situação à médica e mostrei-lhe o relatório do seu colega. Vamos a nova ecografia. Demorou menos de 5 minutos para que esta médica confirmar que havia um problema. A bebé que carregava, tão amada e desejada, era incompatível com a vida.

Mas há menos de 2 horas atrás o médico de família tinha-me dito que estava tudo bem…

Várias voltas dadas, acabei com uma amniocentese marcada para daí a dois dias no hospital de Loures. Uma amniocentese é um exame algo arriscado, mas comum. Preparei-me para o mesmo com alguma descontração.

Dois dias depois, lá estávamos eu e o meu marido, no gabinete médico para o exame. O médico começa a descrever o procedimento e diz algo como “como sabem a bebé tem um problema e o feticídio funciona da seguinte forma…”.

Lembro-me de cruzar, incrédula, os olhos com o meu marido. De que estava o médico a falar? Eu ia apenas fazer uma amniocentese.

O médico, ao ver as nossas caras apercebe-se da situação e pergunta se não nos foi dito o que iríamos fazer. A nossa resposta foi que não. Não foi para aquilo que nos preparamos.

Em 48 horas tivemos a informação de que estava tudo bem com a nossa filha, de que afinal não estava e agora que faríamos um feticídio sem qualquer aviso ou preparação para tal. O meu marido pediu de imediato que eu recebesse apoio psicológico naquele momento. O médico respondeu que poderia solicitar, se ele considerava importante. Haveria dúvidas de que era importante?

Foi feito o que tinha que ser feito. Daí a dois dias fiz o parto desta bebé. Sozinha num quarto de hospital. Sim, sozinha. Sem enfermeiros, nem médicos pois estavam ocupados noutros quartos.

Comigo, com a bebé sem vida nos braços, uma enfermeira entrou disparada no quarto, tirou-ma e chamou uma colega que me deu uns papéis de autópsia para assinar.

Doei o corpo da menina à ciência. Já a empatia… ninguém pode doar.


O Texto é da autoria de Mónica Fernandes

(*) O texto original foi publicado no Jornal OBSERVADOR  a 17/09/2024 e está neste link: https://observador.pt/opiniao/nem-todos-os-profissionais-de-saude-mas-sempre-um-profissional-de-saude/ 

(No texto original, a palavra “paciente” foi substituída por “doente” para respeitar a Classificação Internacional para a Segurança Dos Doentes, e o espírito deste Blog)


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sábado, 21 de setembro de 2024

Sugestão - Curso Europeu sobre Segundas Vítimas (em Português)


Gostaria de te fazer a sugestão de frequentares o Curso Europeu sobre Segundas Vítimas (em Português)

A Segunda Vítima é definida como "Qualquer profissional de saúde que esteja direta ou indiretamente envolvido num evento adverso, ou num incidente imprevisto não intencional, ou numa situação em que um doente sofreu dano, e que se torna uma vítima na medida em que sofre um impacto negativo decorrente dessa experiência." (Vanhaech et al., 2022)

O curso vai permitir-te conhecer melhor esta temática, ter acesso a estudos de caso, exemplos práticos e conhecer as melhores estratégias de intervenção e apoio às "segundas vitimas".

O curso decorre on-line e é de acesso gratuito e está disponível através deste link: https://course.cost-ernst.eu/courses/curso-europeu-sobre-segundas-vitimas-pt/

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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Video OMS - Dia Mundial Segurança Do Doente - Improving diagnosis for patient safety: Get it right, make it safe!

Um diagnóstico identifica o problema de saúde de um doente. Para chegar a um diagnóstico, os doentes e as suas equipas de cuidados de saúde têm de trabalhar em conjunto para percorrer o complexo e por vezes moroso processo de diagnóstico. 

Um diagnóstico tardio, incorreto, falhado ou mal comunicado pode prolongar a doença e, por vezes, causar incapacidade ou mesmo a morte. 

Juntos, todos nós temos um papel a desempenhar na melhoria do diagnóstico para a segurança dos doentes.

O tema do Dia Mundial da Segurança do Doente de 2024 centra-se na melhoria do diagnóstico para a segurança do doente, utilizando o slogan “Get it right, make it safe!”.

Mais informações sobre a campanha: https://www.who.int/campaigns/world-patient-safety-day/world-patient-safety-day-2024 

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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Dia Mundial da Segurança do Doente 2024 - Vídeo da DGS


A Direção-Geral da Saúde celebra o Dia Mundial da Segurança do Doente 2024 com o lançamento de um vídeo, com o mote “Segurança do Doente: Por Todos, Para Todos, Em Todos os Momentos”

Esta iniciativa visa sublinhar a importância da colaboração de todos para aumentar a qualidade e a segurança na prestação de cuidados saúde, em todos os contextos: desde cuidados hospitalares, domiciliários e telessaúde, e em todas as fases do ciclo de vida.

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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

22º Curso Auditoria Clínica para Profissionais de Saúde

Está a decorrer mais uma edição (é já a 22ª) do Curso de Auditoria Clínica para profissionais de saúde.

É incrível a capacidade de trabalho destes profissionais de saúde (Médicos, Enfermeiros, TSDT) que em "apenas" uma semana já construíram as "grelhas de auditoria", elaboraram os "planos de auditoria" e conseguiram obter as necessárias autorizações para iniciarem a recolha de evidências no terreno.


A metodologia de auditoria obedece a regras simples que todos (com dedicação) podem aprender e implementar nos seus serviços.

A Norma Portuguesa - NP EN ISO 19011 2019, define “Auditoria” como um: Processo sistemático, independente e documentado para obter evidência objetiva e respetiva avaliação objetiva com vista a determinar em que medida os critérios da auditoria são cumpridos.

Muito mais do que uma definição formal (ISO) o que importa é verificar a conformidade dos cuidados prestados ao doente, tendo por base a melhor evidência cientifica, o melhor cuidado de saúde possível.

É este cuidado de excelência que procuramos quando desenvolvemos uma auditoria. Identificar o que fazemos bem (a conformidade) mas também o que não fazemos bem (a não conformidade) que a seguir transformamos num plano de ação (oportunidades de melhoria).

Em equipa, é possível melhorar e prestar um melhor cuidado. Um cuidado de qualidade.
A auditoria é uma ferramenta que permite exatamente isso.

O próximo curso (o 23º) vai ser em outubro de 2024 nos Açores, e em breve on-line, na ESCOLA DE SEGURANÇA DO DOENTE.

Para acompanhares a divulgação do curso podes subscrever a newsletter da ESD neste link.

Espero por ti.

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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Feliz Dia Mundial Segurança Do Doente - 2024


A 17 de setembro comemoramos o

Dia Mundial Da Segurança Do Doente

Este ano, 2024, a OMS propõe o tema

“Melhorar o diagnóstico para a segurança do doente”

 

Este pode parecer um tema restrito apenas a um grupo profissional, mas não é assim.

Como é óbvio um diagnóstico médico correto é fundamental para o doente.

Mas a verdade é que todos os profissionais de saúde fazem o seu diagnóstico de doente.

Todos os profissionais avaliam as limitações, necessidades e o conhecimento do doente a cada momento

É com base nesse diagnóstico que são definidas as atividades a realizar com esse doente, as suas reais limitações e necessidades especificas.

 É por isso que realizar um diagnóstico correto e seguro é tão importante

 Um diagnóstico correto e seguro é fundamental para a segurança do doente

Eu sou o Fernando Barroso e quero desejar-te um

Feliz Dia Mundial da Segurança do Doente


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domingo, 15 de setembro de 2024

Entrevista Para Ficar Vs Entrevista De Saída

É muito importante ficar a conhecer os motivos pelos quais um Trabalhador resolve abandonar o seu local de trabalho (Instituição/ Serviço/ Unidade/ Empresa). Algumas empresas aplicam a esses trabalhadores uma "entrevista de saída" para tentarem aprender aquilo que pode ter corrido mal.

Ouvi num podcast do THE ONE THING  o entrevistado Brian Gottlieb a falar num conceito diferente e muito interessante. Em vez de realizar uma entrevista de saída quando o trabalhador vai embora, realizar antes uma entrevista para ficar, quando o trabalhador ainda está na empresa.

A ideia é recolher informação que permita proporcionar um melhor ambiente de trabalho para que o trabalhador queira continuar a trabalhar na empresa (aumentar a retenção) e ao mesmo tempo perceber o que pode ser melhorado (na empresa e nos seus responsáveis)

O Brian apontou 4 perguntas muito interessantes e eu achei que era importante partilhar estas perguntas contigo. Inclusivamente gostava de as colocar também à minha própria equipa (e acho que irei fazê-lo).

As 4 perguntas são as seguintes

1 – O que é que te faz vir trabalhar todos os dias?

2 - O que é que um dia pode quer fazer-te ir embora?

3 – Onde é que achas que a Instituição/Serviço está a fazer alguma coisa errada?

4 – O que é que tu precisas do teu Líder que não está a obter hoje?


Vou lançar-te um desafio.

Se quiseres e de forma completamente anónima podes responder a estas perguntas no formulário a seguir. 

Link para o formulário da ENTREVISTA PARA FICAR 

Será realizada uma análise qualitativa e os dados agregados posteriormente divulgados no blog "Segurança do Doente" durante o mês de novembro de 2024 

Conhecer o que motiva os trabalhadores a desenvolver um bom trabalho, quais são as suas necessidades e preocupações, são fatores muito importantes para a promoção de um ambiente de trabalho saudável e promotor da Segurança Do Doente.

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domingo, 1 de setembro de 2024

Setembro - Mês da Segurança do Doente


Setembro, mês da SEGURANÇA DO DOENTE

A 17 de setembro iremos celebrar o DIA MUNDIAL PARA A SEGURANÇA DO DOENTE sobre o tema “Melhorar o diagnóstico para a segurança do doente”

A OMS refere que um diagnóstico identifica o problema de saúde de um doente. Para chegar a um diagnóstico, os doentes e as suas equipas de cuidados de saúde têm de trabalhar em conjunto para percorrer o complexo e por vezes moroso processo de diagnóstico. Este processo envolve discussões com o doente, exames, testes e análise dos resultados antes de se chegar ao diagnóstico final e ao tratamento. Os erros podem ocorrer em qualquer fase e podem ter consequências significativas. Um diagnóstico tardio, incorreto ou falhado pode prolongar a doença e, por vezes, causar incapacidade ou mesmo a morte.  

O tema do Dia Mundial da Segurança dos Doentes deste ano (2024) centra-se na melhoria do diagnóstico para a segurança dos doentes, utilizando o slogan “Faça-o corretamente, torne-o seguro!”. Neste dia, os doentes e as suas famílias, os profissionais de saúde, os dirigentes dos cuidados de saúde, os decisores políticos e a sociedade civil salientarão o papel fundamental de um diagnóstico correto e atempado na melhoria da segurança dos doentes.

Fonte OMS


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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Regras para a Identificação Inequívoca do Corpo do Doente após a morte

 

A Identificação Inequívoca do Doente é uma das estratégias incluídas no Plano Nacional Para a Segurança dos Doentes 2021-2026.

Uma correta identificação do doente é fundamental (e imprescindível), desde o momento da admissão num serviço de saúde, durante a prestação de cuidados de saúde e também, no fim de vida.

Não tenho conhecimento de quais os fatores contribuintes que levaram à ocorrência do incidente noticiado no jornal "Correio da Manhã" do dia 29/08/2024, mas é muito fácil perceber que, para a Família da "idosa", o impacto terá sido devastador. Uma dupla perda.

Não importa apontar culpados. 

Importa sim investigar para perceber o que aconteceu e como, com o objetivo de aprender com o erro e implementar as medidas corretivas necessárias para que este incidente não volte a acontecer.

O conhecimento existe:

  1. Após o óbito, deve ser confirmada a identificação da pessoa antes da emissão do certificado de óbito;
  2. A equipa de enfermagem deve preparar o corpo para envio à morgue, confirmando a identificação da pessoa.
  3. Caso ocorram mais do que um óbito em simultâneo no serviço (não é difícil de acontecer), nunca se devem preparar as etiquetas de identificação dos corpos em simultâneo.
  4. Na preparação do corpo, deve ser sempre colocada uma etiqueta com a sua identificação junto ao corpo, e uma nova etiqueta no exterior (do lençol ou saco utilizado).
  5. Não deve ser removida a pulseira de identificação que a pessoa tinha colocada no momento do óbito, e caso a mesma não esteja legível, esta deve ser substituída por outra pulseira nova com a identificação legível.
  6. Na morgue, o pessoal só deve remover a pulseira de identificação do corpo, depois de todos os procedimentos necessários, e no momento da entrega do corpo à Família/Agencia Funerária.
  7. No momento da entrega do corpo, deve ser realizada um dupla verificação da identificação do corpo, entre os documentos legais exigidos e a identificação do corpo. Este é um passo critico, e normalmente onde a falha ocorre.
  8. Não se deve permitir que Agencias diferentes (e por vezes a mesma agencia) façam o levantamento do corpo de mais do que uma pessoa em simultâneo (dessa forma aumenta o risco de troca).
Sabemos que, pela influência dos Fatores Humanos a que todos estamos sujeitos, que o erro pode ocorrer. Mas temos a obrigação de avaliar o risco e de implementar boas práticas que reduzam o risco identificadoEssa responsabilidade é da Instituição e dos seus profissionais.

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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Incidente de Segurança do Doente - Falha na Identificação inequívoca do Doente

Clique na imagem para ver a reportagem (São 3m33s)

Mais um exemplo de um incidente de segurança do doente relacionado com a Identificação Inequívoca do Doente, que vem uma vez mais provar (com aparente dano irreversível para o doente) que a simples prática segura de confirmar a correta identificação do doente continua a falhar no nosso sistema de saúde.

É urgente consciencializar para este tema, uma e outra vez.

O Plano Nacional para a Segurança Dos Doentes 2021-2026 alerta, no seu Pilar 5. Práticas Seguras em Ambientes Seguros, para a necessidade de uma correta "Identificação Inequívoca do Doente"

Nos serviços prestadores de cuidados de saúde, a identidade dos doentes deve ser sempre confirmada através de dados fidedignos, como é o caso do nome, da data de nascimento e do número único de processo clínico na instituição, sendo prática segura o recurso a, pelo menos, dois destes dados.

O número do quarto ou da cama de um doente internado não pode ser considerado um dado de identificação fidedigno.

A identificação inequívoca do doente deve, sempre, ocorrer antes de qualquer intervenção, quer ela diga respeito ao diagnóstico, ao tratamento ou à prestação de serviços de apoio. 

Deve ocorrer, por exemplo, antes: 

  • Da alta ou transferência interna ou entre instituições,
  • da realização de exames radiológicos, 
  • da administração de medicamentos, sangue ou componentes do sangue, 
  • antes da colheita de sangue ou de outros espécimes para análise, 
  • antes de tratamentos oncológicos ou de qualquer ato cirúrgico,
  • bem como antes da prestação de um serviço de apoio, como é o caso de servir uma refeição.

Quando a instituição prestadora de cuidados de saúde utiliza a pulseira como meio de identificação do doente, esta deve ser consultada antes de qualquer procedimento, sendo necessário que haja uma validação dos dados do doente aí inscritos antes da sua colocação.

Por exemplo, deve perguntar-se:

  • Qual o seu nome completo? 
  • Qual a sua data de nascimento?

O incidente relatado nesta reportagem da RTP de 15 de agosto de 2024 vem uma vez mais demonstrar que é absolutamente necessário continuar a dar formação aos profissionais e auditar esta prática segura para segurança do doente.

Este é um dos temas do Curso "Segurança do Doente" da ESCOLA DE SEGURANÇA DO DOENTE.

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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Acolhimento Automático em Quiosque nos Serviços de Saúde

 

Acolher um doente num quiosque de um qualquer serviço de saúde é toda uma experiência.


Primeiro é preciso disposição para acolher.

 

Sim, porque a indicação superior é a de que:

-”O doente deve fazer tudo sozinho”

 

Mas a realidade é outra.

 

Há o doente que vê mal (seja porque foi operado à vista ontem ou porque se esqueceu dos óculos)

 

Há o doente Idoso, para quem todos os equipamentos são incompreensíveis

 

Há o doente com baixa literacia em saúde, que não entende, não compreende, e não consegue avançar.

 

Há o doente que, com a pressa que vem, não lê nenhuma das indicações do equipamento e quer - só porque sim - que a coisa funcione.  Como é óbvio, não vai acontecer.

 

E há ainda os “chicos-espertos”. Os que se fazem de inaptos, apenas porque acham que são os outros que tem de os servir.

 

Seja qual for a razão, o facto é que a fila cresce. O quiosque “entope” e é preciso intervir. Estar disponível.

 

E se esta disponível, prepare-se porque vai demorar.

Vai ser preciso explicar tudo do início, todas as vezes, a praticamente todos os doentes.

 

As instruções estão lá. Claras (embora fosse possível fazer certamente melhor). 

É só ler e seguir as indicações.

O quiosque “fala” ao mesmo tempo que apresenta por escrito as indicações.

E isso serve de alguma coisa? Claro que não.

É que, para além de outras limitações, pelo menos metade dos Doentes têm um nível de literacia em saúde “problemático” ou “inadequado” (Estudo Gulbenkian 2016)

E o sistema não está feito para eles.


Tens de começar a explicar tudo, do princípio, uma e outra vez.

Tens de ser paciente (não confundir com doente).

Tens de sorrir.

Tens de articular bem as palavras para que te compreendam.

Tens de falar num tom de voz abaixo do tom de voz do doente agressivo. Ele só quer resolver um problema. Ele está zangado, mas não é contigo. Não te esqueças disso.

Tens de ensinar. Uma e outra vez.

E consegues resolver o problema.

E finalmente sai a senha.

O quiosque fez em 30 segundos o que um Assistente Técnico demoraria no mínimo uns 3 a 5 minutos. E isto se o doente de repente não tiver mil perguntas para fazer.

 

O quiosque dá uma senha de confirmação.

Está lá escrito o local onde o doente se deve dirigir. A indicação é clara - uma vez mais - mas ninguém lê. Ou se lê, não percebe, não compreende, não interpreta.


- Para onde vou agora?

- Por favor, leia a sua senha. Está lá indicado. Vê! é aqui.

- Há pois está. Não vi. Desculpe, Obrigado

 

E na próxima consulta, repetir tudo outra vez…

Provavelmente estamos a fazer alguma coisa errada…


Acolhimento do Utente e Gestão de Conflitos
Este é o novo curso da ESCOLA DE SEGURANÇA DO DOENTE

Tu gostas de ser bem acolhido onde vais? 

Pois é, acolher bem o doente faz toda a diferença.


Vem saber mais aqui https://fernandobarroso.gumroad.com/l/atendimentoutente?layout=profile


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terça-feira, 16 de julho de 2024

Centros de Comando inspirados na NASA aumentam a eficiência dos sistemas de saúde

"CareComm" no Tampa General Hospital

Sistemas de Saúde como a “Oregon Health and Sciences University”, “Johns Hopkins Health System” e o “Tampa General Hospital” estão a implementar CENTROS DE COMANDO numa tentativa de centralizar a tomada de decisões, informou a Deloitte a 15 de julho.

Seguindo o modelo dos sistemas de controlo de tráfego aéreo e do controlo de missão da NASA, os centros de comando hospitalar são instalações personalizadas equipadas com ecrãs de grandes dimensões e painéis de dados em tempo real. Normalmente com 20 a 30 funcionários, funcionam como o núcleo operacional de um hospital, monitorizando a capacidade, o inventário e o fluxo de doentes. Inicialmente centrados na segurança dos doentes e na qualidade dos cuidados, muitos centros de comando evoluíram para abordar questões mais complexas, como o retorno do investimento e as disparidades na saúde, de acordo com o artigo.

Por exemplo, antes de implementar um centro de comando virtual, a OHSU, sediada em Portland, dependia de um sistema de quadro branco inadequado para gerir as necessidades do hospital, o que levou a que 568 doentes transferidos fossem recusados em 2016. Em 2017, o OHSU introduziu um centro de comando eletrónico de “controlo de missão”, duplicando o encaminhamento de doentes para instalações parceiras e aceitando mais 600 doentes transferidos anualmente no espaço de dois anos. Durante a pandemia da COVID-19, o sistema do OHSU geriu o excesso de doentes para todo o estado.

Os centros de comando também estão a demonstrar a sua eficácia em sistemas hospitalares privados, de acordo com a Deloitte. Em 2018, o “Tampa General Hospital” (Flórida) lançou um centro de comando numa tentativa de lidar com a elevada capacidade operacional e melhorar o fluxo e a segurança dos doentes. O centro de comando poupou 40 milhões de dólares nos primeiros 13 meses, reduziu os desvios das urgências em 25% e acrescentou efetivamente 30 camas ao diminuir a duração média das estadias.

Do mesmo modo, o centro de comando do sistema de saúde “Johns Hopkins”, com sede em Baltimore, criado em 2014, aumentou as taxas de ocupação de 85% para 92%, reduziu os atrasos nas transferências das salas de operações em 83% e gerou 16 milhões de dólares em receitas anuais.


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