sexta-feira, 21 de abril de 2017

SD249 - ALERTA DE SEGURANÇA DO DOENTE – Aspiração de micropartículas de vidro na preparação de medicação de ampolas de vidro

Apesar do desenvolvimento científico, continuamos a ter nos nossos serviços ampolas de vidro com medicação que devem ser partidas para que seja possível aspirar o seu conteúdo para uma seringa e posteriormente administrado o medicamento ao doente.

Algo que parece muito simples, esconde riscos para o doente que não podem ser negligenciados.

No artigo - Ampolas de Vidro: Riscos e BenefíciosRevista Brasileira de Anestesiologia Vol. 61, No 4, Julho-Agosto, 2011, os seus autores escrevem:
“No ato da abertura de alguns tipos de ampolas, é comum haver contaminação do conteúdo por partículas de vidro. Há muito esse fato vem sendo observado e relatado dentro da comunidade científica. Esses pequenos fragmentos de vidro podem ser injectados através de várias vias de administração. O anestesista poderá administrar essas partículas tanto no intravascular como através dos espaços peridural e subaracnoídeo. As partículas de vidro podem ainda carregar alguns tipos de metais utilizados na sua fabricação”

Foi exactamente este fenómeno que nos foi transmitido recentemente através de um relato de incidente clínicoO profissional (enfermeiro) escreveu:
“Durante a preparação de uma ampola de hidrocortisona constatámos que existiam resíduos de tinta (vermelha) proveniente da ampola.
Verificamos que ao partir ampola, por vezes, esta tinta "estala" e cai para o interior da ampola.”


Problema identificado:
- Presença de corpo-estranho na solução reconstituída (tinta da zona de “quebra” da ampola). Ampola de hidrocortisona do laboratório (…).

Causa provável:
- A zona indicada de quebra da ampola está revestida a tinta vermelha. Por vezes, esta tinta solta-se e entra dentro da ampola, podendo ser aspirada e consequentemente injectada no doente.

Riscos envolvidos:
- Contaminação do conteúdo por partículas de vidro.
- Partículas de vidro podem carregar alguns tipos de metais utilizados em sua fabricação.
- Administração (múltiplas vias) de corpos estranhos no doente.
- O acto de abertura das ampolas pode expor os profissionais a lesões corto-perfurantes.

Ao analisar este incidente, constatámos que a ampola em questão apresentava um sistema facilitador da abertura de ampolas criado na tentativa de se diminuírem os incidentes corto-perfurantes e as contaminações dos conteúdos. Trata-se do “anel de ruptura” (VIBRAC), a faixa colorida identificada nas fotografias.
Mas durante a análise verificámos também que o mesmo laboratório utiliza diferentes cores nos “anéis de ruptura” das suas ampolas, existindo ainda –para o mesmo medicamento e do mesmo laboratório – outro sistema facilitador da abertura o “OPC” (One Point Cut ou Único Ponto de Abertura).

“anel de ruptura” (VIBRAC)
“OPC” (One Point Cut ou Único Ponto de Abertura)
Como medida correctiva inicial, foi solicitado aos Serviços Farmacêuticos para que:
- Informa-se o fabricante do incidente verificado.
- Solicita-se ao fabricante que apenas forneça a opção de ampolas com o sistema facilitador da abertura o “OPC” (One Point Cut ou Único Ponto de Abertura).

Importa ainda indicar apontar outras possíveis soluções, para diminuir os riscos associados à abertura das ampolas de vidro, mesmo que sejam seguidas as recomendações de abertura/quebra das ampolas.
recomendações de abertura/quebra das ampolas

1. Manter a Ampola Inclinada 45° (minimiza risco de desperdício de substância e contaminação com micropartículas).
2. Polegares (apoio no estrangulamento), indicadores (envolver parte superior da ampola) – Pressionar.
3. OPC – O ponto deve estar oposto aos polegares.



Como principal medida de segurança para o profissional, devem ser utilizadas luvas, sendo que este acto simples de segurança impediria 98% do contacto com sangue e secreções (Carraretto et al).

Outra estratégia de segurança do profissional, sugerida por Rudrashish Haldar e colegas numa carta enviada ao editor do Brazilian Journal of Anesthesiology, sugere a utilização daquilo que descrevem como um “método simples, barato e seguro de abrir ampolas com o uso do corpo de uma seringa.”

O método é descrito da seguinte forma:
“A mão dominante segura o corpo de uma seringa (com o êmbolo removido) e o inverte e, com a mão não dominante, a ponta cónica da ampola é inserida no espaço cilíndrico do corpo (sem o êmbolo) (fig. 1).
Figura 1

A profundidade de inserção da ampola no interior do corpo é ajustada de modo que o gargalo da ampola, marcado por faixa colorida, fique bem próximo da borda circunferente do corpo. Segurando com firmeza a base da ampola com a mão não dominante, uma tração constante é aplicada em direcção ao profissional, enquanto o corpo é empurrado com a mão dominante (com a ponta cónica da ampola em seu interior), com o uso de uma pressão constante e uniforme e a manutenção da borda do corpo em contacto com o gargalo. Uma leve pressão aplicada correctamente abrirá a ampola e a quebrará de forma limpa em torno da faixa colorida. A ponta cónica quebrada e afiada da ampola e as partículas de vidro ficarão no interior do corpo e podem ser acondicionadas e descartadas de forma segura, sem entrar em contacto com os dedos (fig. 2).
Figura 2

Texto explicativo desta técnica neste link: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0034709414000245





Foram criadas outras estratégias na tentativa de se evitar a administração das micropartículas aos doentes. Alguns autores estudaram o uso de filtros em agulhas, assim como o uso de agulhas de menor calibre. Esses estudos não demonstraram qualquer evidência de proteção. No entanto, foi possível caracterizar que o uso de tais filtros encarecia significativamente o produto, além de reter algumas medicações como, por exemplo, a insulina e o sulfato de vincristina

Começam no entanto a surgir alternativas credíveis às ampolas de vidro. Por exemplo o uso de seringas esterilizadas pré-preparadas pelo fabricanteprefilled – pode representar uma evolução em relação à segurança do doente e dos profissionais, minimizando eventuais erros na diluição de soluções, assim como o risco de contaminação.


Esteja alerta. A abertura de uma simples ampola de vidro pode colocar o Doente e o Profissional em risco.

15 comentários:

  1. Olá
    Problema com a borracha das rolhas dos frascos já tinha conhecimento....agora problemas com o vidro das ampolas...!
    Obrigado pelo alerta.
    Cumprs
    Augusto

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    1. Augusto, "tudo é possível"... Por estranho que possa parecer. Esta tem sido a maior lição que tenho aprendido com a Segurança do Doente.
      Abraço.

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  2. Tomei um injeção de complexo B . A pessoa que abriu usou uma toalha, pois estava muito dura de abrir. A cabecinha quebrou todinha,o enfermeiro disse não ter perigo pois ficou todo vidro na toalha. Me arrependo até hoje de ter tomado. Já se passaram 5 dias. Tenho a impressão que estou com gases não sei se é do sistema nervoso. Estou preocupado, se tiver ficado alguma particular de vidro? O corpo bota pra fora ou fagocita? Preciso de uma ajuda!

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    1. Olá,
      O corpo humano tem a capacidade de eliminar praticamente todos os "corpos estranhos" que sejam introduzido no organismo. O normal é existir uma reação inflamatória em volta do "corpo estranho" resultado da ação dos glóbulos brancos (as nossas defesas).
      Mesmo num músculo o processo de eliminação vai ocorrer normalmente, embora possa demorar imenso tempo. Se for algo diminuto (que pode ser o caso), o mais provável é nem notar nada.

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  3. aconteceu comigo ... a enfermeira fez dessa forma que esta descrito no procedimento a parte superior da empola estava dura ela quebrou com a parte inferior da seringa ... espatifou acho que ficou vidro dentro da ampola e ela aplicou mesmo assim passo o dedo e sinto um dorzinha ...snif estou muito triste nao sei oque fazer tomara que o corpo possa expelir

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  4. Aconteceu comigo! Foi administrado ev, quais observações tenho que ter, tem riscos de interromper algum fluxo sanguíneo importante? Como será expelido do corpo nesse caso?

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    1. Existe sempre um risco associado à administração ev. Qualquer corpo estranho injetado acaba por progredir no sistema circulatório até encontrar um local que, pelo seu diâmetro, não permita mais a progressão. Não existe muita evidencia cientifica que aponte para que este seja um ploblema comum.
      No final, qualquer corpo estranho de pequena dimensão acaba por ficar alojado em local que não causa dano ou por ser expelido pelo organismo, isto se não for decomposto.
      Desejo que fique bem.

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  5. Pode ocorrer de ser aspirado em inalação?

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    1. Todos nós podemos inalar diferentes poluentes suspensos no ar. Quanto menor o seu tamanho, maior a probabilidade dessa particula alcançar mais profundamente o nosso sistema respiratório. Mas o nosso organismo tem mecanismos para filtrar o ar que respiramos. Se estamos em ambientes poluídos, devemos ter mais cuidado e atenção é nossa proteção. O uso de mascara é um bom exemplo.

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    2. No caso da utilização de aparelho inalatorio . Ex: retirar o líquido da ampola com a seringa e depositá-lo no copinho, é possível q assim, seja inalado partículas de vidro ?

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  6. Fiz reposição de noripurum endovenoso e a menina partiu a ampola sem
    Luvas e sem gaze , pode ter entrado partícula de vidro pra dentro da seringa?vi que a ampola quebrou a ponta , qual o perigo disso? Sintomas que pode dar caso entre partículas de vidro?

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    1. Olá. Essas dúvidas já foram respondidas em comentários anteriores. leia por favor. Obrigado

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  7. Obrigado pelas as informações

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