quarta-feira, 18 de maio de 2022

Auditoria Clínica - parte 1 | #SD444

 

Photo by Stephen Dawson on Unsplash

São inúmeros os desafios com que hoje nos deparamos numa instituição de saúde. Os cuidados de saúde nunca foram tão complexos, seja pela evolução verificada com a introdução de novas tecnologias e avanços no conhecimento científico, seja por constrangimentos de vária ordem que condicionam a forma como os cuidados de saúde são prestados aos cidadãos. A Pandemia de COVID-19 veio agravar e evidenciar estes desafios e ao mesmo tempo colocou o sistema de saúde à prova.

Apesar da enorme evolução verificada nos cuidados de saúde, ainda não conseguimos encontrar um equilíbrio definitivo entre esse avanço e a garantia de uma prestação de cuidados de qualidade e eficiente.

Continuamos a debater-nos com problemas relacionados com questões “antigas”, como seja por exemplo a implementação de medidas básicas de higienização das mãos que garantam um cuidado seguro, sem risco de propagação de microrganismos multirresistentes entre doentes.

Desenvolvemos “programas de integração”, mas existem profissionais nas instituições de saúde sem formação adequada (em todas as categorias profissionais), a quem é exigido um desempenho exemplar ou mesmo acima das suas competências. A supervisão desses profissionais é por vezes entendida como uma atividade menor ou que “pode esperar”, e os mecanismos existentes para fazer face à necessidade de mudança são escassos ou encontram-se demasiadas vezes reféns da burocracia, da legislação laboral ou do corporativismo.

Os recursos materiais disponíveis são por vezes escassos ou de menor qualidade. Escolher um dispositivo médico é um verdadeiro desafio quando, para escolher, existe como critério principal o artigo “ao mais baixo preço” ficando excluídos dessa forma todos os materiais (dispositivos médicos, material de penso, etc.) a que estávamos acostumados e que davam garantia do resultado esperado à primeira utilização.

Os recursos humanos são igualmente um desafio. Reajustamos continuamente os profissionais atuais às tarefas e funções já existentes, evitando reduzir a oferta de serviços, ou cortando (inevitavelmente) onde é necessário.

Para quem gere (a todos os níveis) o desafio é enorme. Ser criativo já não é suficiente. Há que encontrar formas de analisar, quantificar e fundamentar todas as decisões tomadas. O envolvimento nos cuidados e principalmente o conhecimento dos seus resultados, baseados na eficiência clínica, têm de estar na primeira linha de quem tem responsabilidades de gestão. E a verdade é que todos nós individualmente, mesmo que não o compreendamos, somos responsáveis pela gestão do nosso trabalho diário.

A auditoria clínica é uma ferramenta que devemos compreender e utilizar sem receio. Ela permite conhecer, pormenorizadamente, como são prestados os cuidados (seja ao nível da estrutura, do processo ou dos resultados) aos doentes à nossa responsabilidade. Uma coisa é certa, um profissional apenas poderá prestar um “cuidado de qualidade e eficiente” se tiver disponível um conjunto de conhecimentos, recursos e uma organização adequados.

A Auditoria Clínica permite identificar quais os fatores que carecem de mudança e de quais nos devemos orgulhar. Com a Auditoria Clínica promove-se a deteção sistemática de pontos fracos no processo, a identificação de oportunidades de melhoria, promovendo o refinamento da organização e a sofisticação da prestação de cuidados.

Para concretizar uma auditoria existem um conjunto de metodologias que devem ser conhecidas, desenvolvidas e aplicadas e ao contrário do que possa por vezes pensar-se, a auditoria não é um processo inalcançável. Com a orientação, e empenho adequados, a maioria dos processos pode ser auditado.

Não podemos esquecer a importância e a interligação entre a qualidade em saúde e a segurança do doente, a governação clinica e a eficiência clínica e como a auditoria clinica as pode potenciar.

Vamos discutir (ao longo dos próximos artigos) os passos que nos vão colocar no melhor caminho para concretizar uma auditoria, e com os seus resultados, melhorar os processos, alcançando mais qualidade dos cuidados e melhor segurança do doente (dos profissionais e da instituição).

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

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segunda-feira, 16 de maio de 2022

Uma baixa Literacia em Saúde pode ser fatal e coloca em risco a Segurança do Doente | #SD443


Já muito se falou e escreveu sobre a nossa (dos profissionais de saúde) capacidade de comunicar com o doente, de promover a educação para a saúde e também sobre a capacidade da pessoa para concretizar o que lhe é proposto. 

Falamos de Literacia em Saúde.

“A literacia em saúde remete para as competências e os conhecimentos dos indivíduos necessários para acederem, compreenderem, avaliarem e utilizarem informação sobre saúde, que lhes permita tomar decisões sobre cuidados de saúde, prevenção da doença e modos de promoção de uma vida saudável.

Uma baixa Literacia em Saúde pode dar origem, por exemplo, a um maior número de internamentos e a uma utilização mais frequente de serviços de urgência e, também, a uma menor prevalência de atitudes individuais e familiares preventivas no campo da saúde. Ou seja, a uma menor qualidade de vida. (In: Literacia em Saúde em Portugal – 2015 |Fundação Calouste Gulbenkian)"

Da minha janela observei hoje um doente (como faço muitas vezes). Este chamou-me a atenção. 

Com um equipamento de fornecimento de oxigénio na mão esquerda e um cigarro na mão direita, não consegui deixar de ter um sentimento de pena e de tristeza para com este Sr. Quão desesperado deve estar uma pessoa para continuar com um vício que certamente o fará sentir-se pior?

E mais, não saberá que o ato simples que pratica (fumar um cigarro) com uma fonte de O2 mesmo ao lado (estava a usar uns óculos nasais) pode resultar numa catástrofe?

O que estará no pensamento deste Sr? Qual o nivel da sua literacia em saúde? 

O que está certamente presente é um sentimento de derrota, de quase desespero.

Temos tanto para aprender uns com os outros...


Fernando Barroso

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sábado, 14 de maio de 2022

Todos erramos na Segurança do Doente | #SD442

"Errar é Humano"

Não só esta é uma frase "feita" como também é o titulo de uma publicação que marcou (e marca) o início de uma consciência global sobre o erro nos cuidados de saúde, sobre a "Segurança do Doente" e sobre como todos nós - profissionais e doentes - estamos sujeitos ao erro, mas também, de forma consciente, podemos melhorar a forma como organizamos o trabalho (os cuidados prestados) para diminuir a probabilidade do erro ocorrer.

Esta semana, ao dirigir-me a pé para o meu local de trabalho, passei por um painel publicitário colocado numa paragem de autocarro. Depois de passar pelo local senti que algo não estava "bem". Voltei atrás e percebi o erro.

O trabalhador que colocou o painel enganou-se e colocou o painel de "pernas para o ar". Errou.

Lembrei-me de uma definição de erro da qual gosto particularmente.

"Errar é fazer a coisa errada, pensando que estou a fazer a coisa certa."

Este trabalhador errou a colocar a publicidade e não percebeu o seu erro. Daí não virá certamente grande mal ao mundo.

Na prestação de cuidados ao Doente, um erro pode ser fatal. 

Um profissional de saúde não se pode dar ao luxo de estar distraído (mas estamos); temos de verificar tudo o que fazemos (mas nem sempre o fazemos); não devemos falhar, mas todos somos humanos e todos estamos sujeitos aos mesmos factores humanos que potenciam o erro.

Falhamos  porque não damos a devida atenção à nossa Carga de trabalho cognitiva e mental, falhamos porque aceitamos as Distrações como algo normal, falhamos porque nos sujeitamos a um Ambiente físico prejudicial ao trabalho, falhamos ao ultrapassar as Exigências físicas do trabalho. Falhamos quando trabalhamos com um Desenho do produto/equipamento defeituoso. Falhamos quando não conseguimos implementar um verdadeiro Trabalho em equipa, e quando nos deixamos levar por um Desenho do processo repleto de complexidade.

Hoje, quando fores trabalhar, pensa nisto, sê vigilante e evita o erro.

Fernando Barroso

UM DIA SERÁS TU O DOENTE!

#umdiaserastuodoente

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