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São inúmeros os desafios com que hoje nos deparamos numa
instituição de saúde. Os cuidados de saúde nunca foram tão complexos, seja pela
evolução verificada com a introdução de novas tecnologias e avanços no
conhecimento científico, seja por constrangimentos de vária ordem que
condicionam a forma como os cuidados de saúde são prestados aos cidadãos. A
Pandemia de COVID-19 veio agravar e evidenciar estes desafios e ao mesmo tempo colocou
o sistema de saúde à prova.
Apesar da enorme evolução verificada nos cuidados de
saúde, ainda não conseguimos encontrar um equilíbrio definitivo entre esse
avanço e a garantia de uma prestação de cuidados de qualidade e eficiente.
Continuamos a debater-nos com problemas relacionados com questões “antigas”, como seja por exemplo a implementação de medidas básicas de higienização das mãos que garantam um cuidado seguro, sem risco de propagação de microrganismos multirresistentes entre doentes.
Desenvolvemos “programas de integração”, mas existem profissionais nas instituições de saúde sem formação adequada (em todas as categorias profissionais), a quem é exigido um desempenho exemplar ou mesmo acima das suas competências. A supervisão desses profissionais é por vezes entendida como uma atividade menor ou que “pode esperar”, e os mecanismos existentes para fazer face à necessidade de mudança são escassos ou encontram-se demasiadas vezes reféns da burocracia, da legislação laboral ou do corporativismo.
Os recursos materiais disponíveis são por vezes escassos ou
de menor qualidade. Escolher um dispositivo médico é um verdadeiro desafio
quando, para escolher, existe como critério principal o artigo “ao mais baixo
preço” ficando excluídos dessa forma todos os materiais (dispositivos médicos,
material de penso, etc.) a que estávamos acostumados e que davam garantia do
resultado esperado à primeira utilização.
Os recursos humanos são igualmente um desafio. Reajustamos continuamente
os profissionais atuais às tarefas e funções já existentes, evitando reduzir a
oferta de serviços, ou cortando (inevitavelmente) onde é necessário.
Para quem gere (a todos os níveis) o desafio é enorme. Ser
criativo já não é suficiente. Há que encontrar formas de analisar, quantificar
e fundamentar todas as decisões tomadas. O envolvimento nos cuidados e
principalmente o conhecimento dos seus resultados, baseados na eficiência
clínica, têm de estar na primeira linha de quem tem responsabilidades de
gestão. E a verdade é que todos nós individualmente, mesmo que não o
compreendamos, somos responsáveis pela gestão do nosso trabalho diário.
A auditoria clínica é uma ferramenta que devemos
compreender e utilizar sem receio. Ela permite conhecer, pormenorizadamente,
como são prestados os cuidados (seja ao nível da estrutura, do processo ou dos
resultados) aos doentes à nossa responsabilidade. Uma coisa é certa, um
profissional apenas poderá prestar um “cuidado de qualidade e eficiente” se
tiver disponível um conjunto de conhecimentos, recursos e uma organização
adequados.
A Auditoria Clínica permite identificar quais os fatores
que carecem de mudança e de quais nos devemos orgulhar. Com a Auditoria Clínica
promove-se a deteção sistemática de pontos fracos no processo, a identificação de
oportunidades de melhoria, promovendo o refinamento da organização e a
sofisticação da prestação de cuidados.
Para concretizar uma auditoria existem um conjunto de
metodologias que devem ser conhecidas, desenvolvidas e aplicadas e ao contrário
do que possa por vezes pensar-se, a auditoria não é um processo inalcançável. Com
a orientação, e empenho adequados, a maioria dos processos pode ser auditado.
Não podemos esquecer a importância e a interligação entre a qualidade em saúde e a segurança do
doente, a governação clinica e a eficiência clínica e como a auditoria clinica as pode
potenciar.
Vamos discutir (ao longo dos próximos artigos) os passos que nos vão colocar no melhor caminho para concretizar uma auditoria, e com os seus resultados, melhorar os processos, alcançando mais qualidade dos cuidados e melhor segurança do doente (dos profissionais e da instituição).