E se, num exercício
de pura imaginação, os serviços de saúde estivessem dotados com o número de profissionais
adequado ao fluxo de trabalho habitual e existissem planos de contingência flexíveis
para aumentar esse número em momentos de crise.
Eu sei. É imaginação.
Alguns dirão até que é “uma ilusão”. Mas porque é que, não
é assim?
Possíveis motivos:
1. Os responsáveis
por libertar a verba necessária para a contratação não compreendem o que significa
cuidar de um doente complexo, de um doente em estado grave, ou de um indigente com problemas
psiquiátricos que é levado contra a sua vontade para dentro de um serviço de urgência
que já não tem sequer macas próprias para o receber com dignidade.
2. Os Conselhos
de Administração existem para “executar” da melhor forma possível a política definida
pela tutela (ler novamente o ponto 1).
3. Na sua maioria
os directores de serviço não compreendem as dificuldades dos outros profissionais
sob a sua hierarquia funcional (leia-se Enfermeiros, Técnicos, Assistentes Operacionais,
Assistentes Técnicos, entre outros).
4. As chefias
intermédias (Enfermeiros Gestores, Técnicos Coordenadores, Encarregados Operacionais,
Coordenadores Técnicos) não conseguem (ou não sabem) contabilizar o trabalho
produzido, adequar os recursos existentes à carga de trabalho actual e prever as
necessidades futuras.
5. Muitos dos profissionais de "primeira linha" desresponsabilizam-se dos seus deveres e não ajudam a resolver os problemas.
6. As solicitações
da população são cada vez maiores. Foi vendida a “falácia da vida eterna” em que
os cuidados de saúde resolvem qualquer doença. E por mais que se alerte para as
más práticas a maioria da população insiste em comportamentos de risco (comer alimentos
pouco saudáveis, beber demasiado, fumar e não praticar exercício físico) negligenciando
a sua própria saúde.
O sistema parece
não ter solução.
A segurança
do doente é definida como a redução do
risco de danos desnecessários, relacionados com os cuidados de saúde, para um mínimo aceitável.
Para que esta
definição seja aplicada todos temos de
dar o nosso contributo.
No meu serviço
(Consultas Externas) passaram no dia 03 de Março, pela sala de espera do balcão
de atendimento, entre as 8h00 e as 11h00 mais de 300 doentes.
A capacidade instalada, a dotação de profissionais existente e as decisões indirectas tomadas por outros, em conjunto com a literacia em saúde
da nossa população colocaram claramente em risco centenas de doentes e profissionais.
A segurança dos
doentes deve ser a nossa principal preocupação todos os dias.
É urgente reservamos
todos os dias algum tempo para reflectir sobre este assunto e perguntar:
- O que é que
eu posso fazer, que esteja ao meu alcance, para melhorar a segurança dos meus doentes?
Fernando Barroso
UM DIA SERÁS TU O DOENTE!
#segurancadodoente