sábado, 9 de dezembro de 2017

Quais os 10 Principais Riscos relacionados com a Tecnologia na Saúde para 2018 | SD275

À medida que a tecnologia se torna mais avançada, também surgem mais perigos e riscos potenciais.

É com base nesta premissa que o Emergency Care Research Institute – ECRI revelou os 10 Principais Riscos relacionados com a Tecnologia na Saúde para 2018.

Para criar esta lista anual, a equipa de especialistas da ECRI sugere tópicos para consideração. De seguida um painel de peritos, estratifica-os com base nos seguintes critérios:
  • Gravidade. Qual a probabilidade de o perigo causar ferimentos graves ou a morte?
  • Frequência. Quão provável é o perigo? Isso ocorre com frequência?
  • Abrangência. Se o risco ocorrer, as suas consequências podem afetar um grande número de pessoas, dentro de uma instituição ou em várias instituições?
  • Insidiosa. O problema é difícil de reconhecer? O problema poderia levar a uma cascata de erros a jusante antes de ser identificado ou corrigido?
  • Perfil. O perigo é suscetível de receber publicidade significativa? Foi relatado nos média, e um hospital afetado provavelmente receberá atenção negativa? O risco tornou-se um foco de órgãos reguladores ou agências de acreditação?
  • Prevenção. Podem ser tomadas ações agora para evitar o problema ou pelo menos minimizar os riscos? O aumento da consciencialização sobre o risco ajudará a reduzir futuras ocorrências?
Todos os tópicos seleccionados para a lista são, até certo ponto, evitáveis.

No topo da lista para 2018 está o pedido de “resgate” (ransomware) e outras ameaças à segurança on-line.

"Num ambiente de saúde, um ciberataque pode afetar significativamente a prestação de cuidados de saúde, tornando inutilizáveis os sistemas informáticos, impedindo o acesso aos registros de dados do doente e afetando a funcionalidade de dispositivos médicos em rede", observa o relatório da ECRI.

Os problemas de segurança informática podem prejudicar o fornecimento de consumíveis, causar o cancelamento de procedimentos, expor informações privadas e colocar a segurança dos doentes em risco.

E apesar dos esforços contínuos, o tema continua a ser problemático. A 15-05-2017 a ACSS emitia um comunicado que começava assim: “Como é do conhecimento geral, está a decorrer um ciberataque sem precedentes na história. A apreciação dos factos disponíveis leva à necessidade de medidas cautelares adicionais.”

Os outros nove perigos na lista incluem:

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

INFEÇÕES URINÁRIAS RELACIONADAS COM CATETER VESICAL | Desafios à implementação da norma da DGS | SD274

INFEÇÕES URINÁRIAS RELACIONADAS COM CATETER VESICAL
Desafios à implementação da norma da DGS

Resumo da apresentação nas II Jornadas da Qualidade e Segurança do Doente, decorridas no IPO de Coimbra, a 10 de novembro de 2017.
Autor: Filipe Santos | Enfermeiro – GCL-PPCIRA |Pós-graduado em Gestão de Unidades de Cuidados | Mestrando em Enfermagem

As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) têm uma taxa de prevalência de 10,5%, quase o dobro da verificada na União Europeia (UE). A taxa de incidência verificada na UE é de 6,1%. As infeções custam a cada cidadão da UE cerca de 3000€/ano.

As principais localizações das IACS, consoante a bibliografia pesquisada, são as vias respiratórias e as vias urinárias.

Os microrganismos mais frequentemente isolados são Staphylococcus áureos resistentes à meticilina (nas vias respiratórias) e Escherichia coli, Staphylococcus saprophyticus, Proteus sp., Klebesiella sp. e Enterococcus faecalis (nas vias urinárias).

A problemática das IACS é silenciosa e desvalorizada. Para se ter uma ideia, em Portugal, por ano, morre-se 7,2 vezes mais de IACS do que de acidentes de viação. Contas feitas, morrem diariamente 12,6 doentes devido a IACS.

A resistência aos antimicrobianos tem sido uma preocupação crescente. Acredita-se que se não forem encontrados novos antibióticos podem morrer anualmente 390000 pessoas em 2050 só na UE. Estimativas apontam para que 10000000 de pessoas em todo o mundo possam morrer devido à resistência aos antimicrobianos em 2050.

A prescrição de antibióticos perante bacteriúria assintomática não deve acontecer. Se a bacteriúria for sintomática deve ser tratada com antibiótico de baixo espectro, baseado no cultura da urina e no perfil de sensibilidade.

As infeções urinárias (IU) são das mais frequentes e aumentam em 2,4 dias o internamento de doentes cirúrgicos. 17% das bacteriemias nosocomiais são de fonte urinária e têm uma mortalidade associada de 10%. No entanto, as IU têm baixa morbilidade comparativamente a outra IACS.

De todas as IU, entre 70% a 80% são devidas à presença de cateter vesical (CV).

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Antibióticos: Use-os com cuidado! - Dia Europeu e Semana Mundial dos Antibióticos 2017 | SD273

Antibióticos: Use-os com cuidado!
Dia Europeu e Semana Mundial dos Antibióticos 2017
Artigo de Autores Convidados
Felisbela Barroso e Verónica Florêncio
O Dia Europeu dos Antibióticos consiste numa iniciativa do ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control), a agência da União Europeia para a área da Saúde. A Semana Mundial dos Antibióticos é uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde.
  • As infecções causadas por bactérias resistentes provocam 700.000 mortes anuais no mundo inteiro.
  • Novas estirpes resistentes, em particular bactérias Gram negativas, têm-se tornado emergentes.
  • Estas infeções causam um acréscimo de 10.000 a 40.000€ por doente.
  • Entre 30 a 50% dos antibióticos são incorretamente prescritos.
  • Se nada for feito, estima-se que em 2050 morram 10 milhões de pessoas em todo o mundo por infecções causadas por bactérias resistentes.


A RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS É UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA CADA VEZ MAIS GRAVE

  • Evolução preocupante dos Gram negativo resistentes, em particular das Klebsiellas  resistentes aos Carbapenemos.
  • Portugal continua na linha da frente no MRSA, VRE e Acinetobacter resistente aos carbapanemos, embora em melhoria.
Fonte: EARS-Net, 2016

COMO PROMOVER O USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS?

  • Não use antibióticos em colonizações bacterianas ou infecções virais.
  • Não peça uroculturas por rotina sem que exista suspeita clínica de infecção urinária. Muitos utentes estão colonizados com bactérias e não requerem terapêutica.
  • Não prescreva antibióticos para bacteriúrias assintomáticas (exceto situações específicas).
  • Evite prescrever empiricamente carbapenemos, quinolonas e cefalosporinas de 3ª geração, as quais estão associadas à emergência de Gram negativos produtores de ESBL ou resistentes aos carbapenemos, além de MRSA e Clostridium difficile.
  • A maioria das infeções trata-se com uma duração máxima de 7 dias de terapêutica.
O ECDC propõe a utilização do seguinte instrumento para os médicos prescritores:


O ECDC lançou ainda uma campanha nas redes sociais chamada: #keepAntibioticWorking. #KeepAntibioticsWorking.

Para aceder a mais conteúdos: https://antibiotic.ecdc.europa.eu/en #KeepAntibioticsWorking.#KeepAntibioticsWorking.

Autoras:
Felisbela Barroso e 
Verónica Florêncio
Enfermeiras no Grupo Coordenador Local de Controlo de Infecção e Prevenção de Resistências aos Antimicrobianos do Centro Hospitalar de Setúbal

O Blog "Segurança do Doente" agradece a partilha à autoras deste artigo.
Dia Europeu e Semana Mundial dos Antibióticos 2017
UM DIA, SERÁS TU O DOENTE!

domingo, 12 de novembro de 2017

Quando As Bactérias Multirresistentes Têm Alta – SD272

Artigo de Autores Convidados
Felisbela Barroso e 
Verónica Florêncio

Os Microrganismos Multirresistentes (MoMR) constituem uma ameaça à saúde pública, com fortes implicações económico-sociais.
O Grupo Coordenador Local de Controlo de Infeção e Prevenção de Resistências aos Antimicrobianos (GCLCIPRA) do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) implementou um conjunto de medidas de prevenção e controlo de infecção de MoMR:
  • Elaboração de um procedimento para controlo de MoMR, com base na Norma DGS nº 018/2014 actualizada a 27/04/2015 - Prevenção e Controlo de Colonização e Infeção por Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina (MRSA) nos hospitais e unidades de internamento de cuidados continuados integrados (Disponível em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0182014-de-09122014.aspx)
  • Formação aos profissionais;
  • Rastreio de MRSA na admissão hospitalar;
  • Higiene pré-operatória com clorohexidina;
  • Notificação activa dos MoMR aos serviços;
  • Análise e divulgação semestral dos resultados;
  • Emissão de alertas e boletins informativos;
  • Criação de ficha de notificação para o exterior.

Os MoMR mais identificados no CHS nos anos 2016/2017 foram o Staphylococcus aureus meticilino-resistente (MRSA) e as Enterobacteriáceas produtoras de Betalactamases de Espectro Alargado (ESBL).
Na actualidade assiste-se a um aumento crescente de pessoas portadoras de MoMR com alta hospitalar, situação que levou o GCLCIPRA a desenvolver uma estratégia de melhoria da comunicação com as unidades de saúde da comunidade:
  • Envio da ficha de notificação; 
  • Folheto informativo
  • Contacto via email e/ou telefónico;
  • Apoio presencial aos profissionais/cuidadores.

Apurou-se no período 2016/2017 48 notificações para o exterior, 70% exsudados nasais MRSA, 16% exsudado de feridas MRSA, e 8% exsudado de feridas Enterobacteriáceas produtoras de ESBL. A sua maioria foi dirigida a lares – 33%, seguido das Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP)/ Unidades de Saúde Familiar (USF) – 27%, e das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) - 8%, tal como consta no gráfico abaixo apresentado.

Este trabalho tem sido muito valorizado pelos profissionais e cuidadores da comunidade, que vêm nesta parceria uma oportunidade de aumentar conhecimentos, e melhorar as práticas da equipa, evitando a transmissão cruzada de MoMR.
A adopção de uma abordagem sistémica e integrada entre as diversas instituições de saúde, assente numa comunicação bidireccional, permite assegurar a continuidade e qualidade dos cuidados, aumentando a segurança dos doentes e dos profissionais.

Propostas para o futuro:

  • Notificação para o exterior em suporte informático;
  • Acesso/Registo Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados;
  • Workshops dirigidos às direções técnicas das Unidades de Saúde da Comunidade;
  • Reuniões periódicas GCLCIPRA e os Elementos Dinamizadores de Controlo de Infecção das UCSP/USF/UCC.

Segundo a DGS (2016) mais de 1/3 das infecções podem ser evitadas. Importa garantir condições de funcionamento nos serviços, adequação dos processos, boas práticas dos profissionais.

Autoras:
Felisbela Barroso e 
Verónica Florêncio
Enfermeiras no Grupo Coordenador Local de Controlo de Infecção e Prevenção de Resistências aos Antimicrobianos do Centro Hospitalar de Setúbal

O Blog "Segurança do Doente" agradece a partilha à autoras deste artigo.

UM DIA, SERÁS TU O DOENTE!

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

VI Curso de Auditoria Clínica - Queres saber quais as auditorias que construímos de raiz? - SD270

Foi com entusiasmo que realizei mais um Curso de Auditoria Clínica (o 6º) desta vez para Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA).

O primeiro dia constitui sempre um momento de aprendizagem intenso mas também (pela componente prática do workshop de construção da grelha de auditoria) uma consciencialização de que nem sempre os documentos orientadores da prática dos profissionais - Normas de Orientação; Procedimentos, etc. – estão construídos da forma mais correta não sendo sequer, em alguns dos seus aspectos, passíveis de serem auditados.

Segue-se um período de intenso trabalho autónomo com supervisão do formador em que cada formando de forma individual ou em grupo:
  • Expande o seu conhecimento;
  • Experimenta no terreno a nova metodologia e ferramenta que criou, realizando uma auditoria em contexto real, e;
  • Se surpreende com os resultados que obtém e o conhecimento que adquire.

O segundo dia (que ocorre 3 semanas depois do 1º dia) é um dia fantástico com apresentação do trabalho realizado e intensa discussão dos dados obtidos.
Invariavelmente todos aprendem com o partilhar das experiências e com o volume incrível de dados concretos (evidências) que não podem, a partir daí, ser ignoradas.

Neste curso foram realizadas as seguintes auditorias:

domingo, 29 de outubro de 2017

Está a chegar uma crise de antibióticos - e todos somos responsáveis por lutar contra isso | SD269

Há alguns anos atrás, levei meu filho a um centro de atendimento permanente com um corte feio no joelho. Entrámos num consultório e o enfermeiro lavou as mãos, colocou umas luvas e começou a examinar a ferida. O telefone tocou, ele atendeu o telefone com as luvas e depois voltou para o joelho do meu filho.
Quando lhe pedi para remover as luvas e lavar as mãos, ele parecia envergonhado. Ele apercebeu-se que, ocupado e distraído, esquecera os fundamentos da prevenção de infeções e estava mortificado.

No início deste mês, despertamos para a notícia de que um "apocalipse pós-antibiótico" poderia ser uma realidade em apenas 20 anos. A Chief Medical Officer para a Inglaterra, Sally Davies, alertou que, no futuro, mesmo uma cirurgia menor poderia levar a uma infecção potencialmente fatal, a menos que tomemos medidas para prescrever menos antimicrobianos.

Precisamos urgentemente de procurar soluções globais para este problema, mas cada um de nós também pode contribuir todos os dias para esta luta contra a resistência aos antimicrobianos (RA).

"Temos sorte em ter agora o conhecimento subjacente para apoiar as nossas intervenções de prevenção de infecção", afirmou Sally Davies.

Existe muito trabalho em desenvolvimento nas organizações do SNS para melhorar a administração de antibióticos. Veja-se o que se está a alcançar com o Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), sediado na Direção-Geral da Saúde – Todos têm um papel importante a desempenhar no seu sucesso.

Juntamente com essas iniciativas, cada um de nós (profissional de saúde) têm um papel fundamental na quebra da cadeia de infecção e na prevenção de infecções que ocorrem em primeiro lugar para que não haja necessidade de antibióticos - a higiene das mãos é fundamental para isso.

Conhecemos a importância da higiene das mãos na prevenção das infecções desde a era pré-antibiótica da década de 1840, quando um médico húngaro, Ignaz Semmelweis, observou que as taxas de infecção caíram dramaticamente quando os médicos lavavam as mãos antes de assistirem às mulheres durante o parto.
Florence Nightingale, uma campeã da higiene das mãos, identificou os mesmos benefícios no seu hospital em Scutari.
Temos sorte de ter agora o conhecimento subjacente para apoiar as nossas intervenções de prevenção de infecção.

Com base na informação que já possuímos, todos os profissionais de saúde que entram em contacto com um doente podem contribuir de forma pessoal para enfrentar a resistência aos antimicrobianos utilizando sempre uma rigorosa técnica de higiene das mãos.

Há orientações claras sobre a higiene das mãos e sobre o uso de equipamentos de protecção individual, e todos nós precisamos ter a confiança para desafiar os outros profissionais se acharmos que sua prática é deficiente e ponha em risco a segurança do doente.

Nós precisamos proteger os antimicrobianos que temos para as gerações futuras e todo o profissional da saúde tem oportunidades todos os dias para contribuir para a solução.

"Pensando naquele dia no centro de atendimento permanente, estremeço ao contemplar as consequências se meu filho tivesse desenvolvido uma infecção associada aos cuidados e não existissem antibióticos para a tratar." - Eileen Shepherd

Texto da autoria de Eileen Shepherd, editora clínica na www.nursingtimes.net e aí publicado a 26 de Outubro de 2017. Texto adaptado por Fernando Barroso.

UM DIA, SERÁS TU O DOENTE!

sábado, 28 de outubro de 2017

A Formação em Segurança do Doente não tem de ser Complicada - SD268

Depois de mais um período intenso de formação e partilha com mais de 120 formandos de diferentes categorias profissionais (Médicos, Enfermeiros, Assistentes Operacionais, Assistentes Técnicos e TDT's), confirmo o que à muito venho a defender:

- Uma formação em "Segurança do Doente" estruturada de forma simples e apelativa, que incorpora mais de 50% de prática simulada e exemplos práticos, cativa qualquer profissional e “prende” à sala até o profissional mais renitente.

Como é que eu estruturo as minhas sessões?

1. Estabelecer os conceitos chave
Ao estabelecer os conceitos chave não me limito a ler ou apresentar a definição do conceito.
Eu explico aos formandos a minha própria interpretação de cada conceito e de seguida apresenta exemplos práticos. Desta forma o conceito é mais facilmente compreendido por todos.

2. Utilizar a “prática simulada”.
Nem sempre é possível ir ao “terreno” e praticar a aplicação de algumas ferramentas – Avaliação do Risco; Análise das Causas Raiz; HFMEA; Notificação de incidentes – Mas é sempre possível transportar essas ferramentas para a sala e fazer prática simulada com resultados muito bons para experiência do formando.

3. Não ter medo de partilhar casos e exemplos reais
Em segurança do doente tenho aprendido que tudo pode acontecer.
Também sei que aquilo que ocorre numa instituição pode não acontecer noutra, ou que os profissionais de diferentes em instituições notificam de formas diferentes e tem diferentes preocupações.
A verdade é que a partilha de casos e exemplos reais é cativante e constitui uma excelente forma de deixar bem claro que a segurança do doente deve ser uma prioridade e que o dano para o doente como resultado da prestação de cuidados de saúde é muitas vezes catastrófico.

Tão importante como “saber” é “fazer”.
Para alcançar os meus formandos eu não posso ser “enfadonho”.
Acredito que todos querem “fazer bem” e sei que todos querem conhecer o que efectivamente acontece aos doentes através da minha experiência.
Pelas reacções que recebo - por vezes emocionadas – sei que este é o caminho.

Obrigado a todos os meus formandos. E não se esqueçam.


Um dia serás tu o doente!

sábado, 7 de outubro de 2017

Se os membros do governo tivessem de observar os doentes com dor talvez eles agissem para reduzir a falta de pessoal - SD267

"Se os membros do governo tivessem de observar os doentes com dor talvez eles agissem para reduzir a falta de pessoal."

Este é um texto construído com base num artigo de Jenni Middleton, publicado no Nursing Times.

O que é que te frustrou mais no último turno? O que é que te vai impedir de providenciar o nível de cuidado que desejarias dar aos teus doentes no próximo turno?

“Recentemente ocorreu um Congresso Anual de Enfermeiros Directores, em Manchester, durante 2 dias. Este é um evento onde os Enfermeiros Diretores se reúnem para discutir assuntos chave do momento e encontrar soluções para os desafios realmente difíceis que eles e as suas equipas têm de enfrentar.”

“Consegues imaginar qual foi o principal tópico de conversa - em cada uma das sessões individuais do programa independentemente do seu assunto? É a mesma resposta que tu provavelmente destes às duas primeiras perguntas colocadas no início deste artigo. A Falta de pessoal.”

“Enquanto se debate a implementação de inúmeros programas de saúde repletos de acrónimos e jargão técnico aquilo que realmente sabemos é que nenhum destes programa irá realmente funcionar se eles não forem implementados pelas equipas de enfermagem.”

“Não restou qualquer dúvida de que todos os enfermeiros directores que se encontravam no congresso estavam bastante preocupados com a forma como eles iriam conseguir enfermeiros suficientes para as suas enfermarias e cuidados de saúde primários.”

“As decisões tomadas pela tutela relacionadas com os recursos humanos e os seus níveis não são baseados na evidência nem tão pouco na segurança do doente. Elas são condicionadas directamente pelo dinheiro disponibilizado e isso toda a gente sabe.”

“Em 2017 ainda se tomam decisões acerca dos recursos humanos baseados no orçamento decidido pelo ministro das finanças em vez de dar atenção às necessidades ditadas pela procurar de cuidados pelos doentes.”

“Este assunto não se trata de chamar atenção sobre uma ou outra profissão. É sobre os cuidados aos doentes. Se o número de enfermeiros e outros profissionais diminui isso afectará negativamente os doentes, os seus resultados em saúde e a sua mortalidade.”

“Uma das enfermeiras presentes no congresso falou sobre as difíceis decisões que tem que tomar enquanto enfermeira directora. Ela afirmou: “Eu tenho 90 doentes no meu hospital que precisam de ajuda para se alimentar. Eu nunca tenho 90 enfermeiros em cada turno, portanto como é que eu faço para lhes entregar a comida a tempo? E o mesmo se passa com a administração de medicação. O que é que eu faço quando um doente tem de esperar uma hora para receber a sua medicação analgésica no pós-operatório?”

“Na realidade são os enfermeiros na linha da frente que tem de fazer face à agonia destas decisões e à agonia dos seus doentes. Mas são as decisões tomadas por órgãos de gestão que se encontram bem longe dos cuidados que prejudicam mais os doentes.”

“Talvez se fossem o Primeiro-Ministro, o Ministro das Finanças ou o Ministro da Saúde a administrar estas drogas fora de tempo, olhando para os doentes que estão à espera em camas molhadas porque não há tempo para mudar os lençóis e encarar os doentes com dor desnecessária, talvez assim eles considerassem olhar para os recursos humanos na saúde como uma prioridade.”

Como referi no inicio, o texto anterior é uma tradução de grande parte do artigo original. Mas a verdade que este artigo (do Reino Unido) contém não é muito diferente daquilo que se passa em Portugal.


E a Segurança do Doente. Como fica?
Fernando Fausto M. Barroso

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Segurança do Doente na Transfusão Sanguínea - SD266

Quais os principais aspectos que devemos considerar para garantir a segurança do doente antes da administração de sangue? + Fluxograma para Administração de Componentes Sanguíneos (disponível no final do artigo)
Diariamente são administrados nas nossas instituições de saúde centenas unidades de sangue. Apesar de comum, a segurança transfusional é algo que deve merecer a nossa máxima atenção e deve estar presente na nossa mente ao longo de todo o Ciclo Transfusional:
  • Prescrição médica: Na prescrição inicial devem constar pelo menos três elementos identificadores do doente (nome completo, data de nascimento e nº de processo clínico), indicação da transfusão, exames laboratoriais recentes que justifiquem o pedido de transfusão e quaisquer eventos adversos anteriores a esta nova solicitação.
  • Colheita de amostras:  O profissional que faz a colheita de amostra para estudo de compatibilidade (Enfermeiro ou Técnico de Diagnóstico e Terapêutica) deve garantir que o tubo de colheita possui uma etiqueta de identificação completa do doente (nome completo, data de nascimento e nº de processo clínico). As amostras deverão ser transportadas imediatamente ao Serviço de sangue acompanhadas do pedido de transfusão.
  • Selecção Pré- transfusional: Deve ser praticada por profissional qualificado com competência para identificar e resolver, se possível, os problemas que por ventura possam surgir na selecção da bolsa de sangue  a ser transfundida.
  • Dispensa:  A(s) bolsa(s) seleccionada(s) são enviadas, de acordo com a prescrição, para o Serviço onde o doente se encontra, transportadas em contentores adequados e devidamente identificados. É importante referir que as malas de transporte de sangue não podem ser utilizadas para armazenamento do mesmo – apenas são adequadas ao transporte interno entre o serviço de sangue e o serviço onde o doente se encontra, dentro da instituição de saúde.
  • Transfusão:  O profissional de Enfermagem que administra a unidade de sangue deve verificar:
    • A existência da prescrição;
    • A correcta identificação da unidade de sangue e da sua compatibilidade com a prescrição;
    • A correcta identificação do doente confirmando os dados existentes na etiqueta da unidade de sangue com os dados de identificação da pulseira do doente;
    • Verificação dos sinais vitais pré-transfusionais e da permeabilidade do acesso venosa
    • Administração de pré-medicação (se prescrita)
    • Apenas depois destes procedimentos é que a unidade de sangue deve ser preparada (perfurada), iniciando-se posteriormente a transfusão, mantendo uma vigilância constante a possíveis intercorrências/reacções adversas. É fundamental que o profissional que iniciou a administração do sangue permaneça junto do doente nos primeiros 15 minutos para observar possíveis reacções transfusionais graves que podem ocorrer durante este período. Após o término da transfusão são registados os sinais vitais pós transfusionais.
São inúmeros os factores contribuintes que contribuem para um aumento do risco para o doente.
De seguida partilho contigo um pequeno vídeo (de apenas 10 minutos) que merece a tua atenção.



Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado vários incidentes relacionados com a administração de sangue (administração ao doente errado; identificação incorrecta de amostra para estudos de compatibilidade, preparação indevida da unidade e consequente desperdício do sangue, etc.)

Em consequência desse acompanhamento produzimos um Fluxograma para Administração de Componentes Sanguíneos com os principais aspectos que devemos ter em atenção e que agora partilhamos.

domingo, 3 de setembro de 2017

As ferramentas da Qualidade em Saúde e da Segurança do Doente são aplicáveis aos Cuidados de Saúde Primários? -SD265

Será que as ferramentas actuais relacionadas com a Qualidade em Saúde e a Segurança do Doente são aplicáveis aos Cuidados de Saúde Primários?

Esta é uma pergunta que têm surgido sistematicamente e que está relacionada com a aplicação dos princípios da qualidade em saúde, da segurança do doente ou da Avaliação do Risco aos Cuidados de Saúde Primários (CSP).

Falo várias vezes com colegas que trabalham nos CSP e quase todos referem que as ferramentas relacionadas com a segurança do doente e a qualidade em saúde não estão adaptadas aos seus locais de trabalho, ou que todos os exemplos disponíveis têm como origem nos cuidados hospitalares.

Eu considero que todos os princípios e ferramentas que existem se podem adaptar aos CSP respeitando a realidade de cada local de trabalho.

É possível atender aos mesmos problemas, às mesmas dificuldades aos mesmos desafios com ferramentas que estão actualmente disponíveis:
Com estas ferramentas é possível, em cada um dos locais onde são prestados cuidados de saúde, desenvolver um plano de qualidade com vista à segurança do doente e à melhoria da prestação de cuidados.

Considero que não é correcta a alegação de que os instrumentos disponíveis não são aplicáveis aos cuidados de saúde primários. Aquilo que tem efectivamente de ser feito é adaptar as perguntas, instrumentos e metodologias existentes a cada um dos diferentes contextos de trabalho.

Tem de realizar-se um esforço de aplicação das ferramentas existentes. Mas acima de tudo na documentação, aplicação e divulgação dessas experiências para que possam ser partilhadas com outros colegas do mesmo nível de cuidados.
Todos temos a responsabilidade de desenvolver esse esforço.

É imperioso documentar o que está a acontecer publicando artigos, histórias, pequenas informações  e tudo aquilo que seja possível com o objectivo da partilha.

Neste âmbito, o Blog Segurança do Doente estará sempre disponível para colaborar, publicando toda a informação relevante.


Pessoalmente, eu próprio tenho feito um esforço na divulgação de questões mais adaptadas aos CSP e irei continuar a fazê-lo.

Para isso, conto também com a vossa ajuda, com as vossas sugestões e perguntas.

Quais as ferramentas que utilizas no teu contexto de CSP? e como?

Que dificuldades encontras na sua aplicação?

Quais as ferramentas que gostavas de ver aqui analisadas numa óptica de CSP?

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

CHS realiza as suas 3as Jornadas de Enfermagem | SD264

O Centro Hospitalar de Setúbal vai realizar as suas 3ªs Jornadas de Enfermagem, cujo tema será “Uma só Enfermagem – Diferentes Perspetivas do Cuidar”, e que decorrerá nos próximos dias 19 e 20 de outubro de 2017, no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal.

Fica aqui o convite à tua participação.



Podes aceder ao site das Jornadas através do link abaixo, onde encontras o programa e toda a informação necessária para poderes participar.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Checklist Procedimentos de Segurança da ERS 2017 - SD263


A Entidade Reguladora da Saúde actualizou a sua  Checklist Procedimentos de Segurança destinada a integrar a avaliação da qualidade dos estabelecimentos hospitalares no âmbito da dimensão Segurança do Doente do Sistema Nacional de Avaliação em Saúde – SINAS@Hospitais.

Mesmo que o teu Hospital não esteja envolvido na avaliação SINAS@Hospitais, esta checklist pode ser utilizada para realizar uma "auditoria interna" aos procedimentos de segurança preconizados, e com isso identificar áreas a melhorar.


Fernando Barroso

sábado, 5 de agosto de 2017

Água quente ou fria? Qual deves usar para lavar as mãos? | SD262

Quando lavas as tuas mãos, que temperatura de água preferes? Quente ou fria?
E será que a tua escolha afecta a remoção de bactérias durante a higiene das mãos?
De acordo com um estudo realizado por investigadores da Rutgers University-New Brunswick a água fria é tão eficaz quanto a água quente a remover bactérias nocivas.

Para a realização deste estudo, os investigadores colocaram altos níveis de bactérias nocivas nas mãos de 21 participantes várias vezes, ao longo de um período de seis meses.

Os participantes lavaram então as mãos com água com temperaturas de água entre os 15 e os 38°C usando volumes de sabão de 0,5 ml, 1 ml ou 2 ml.

O estudo mostra que a temperatura da água - tão alta como 38ºC e tão baixa como 15ºC - não teve um efeito significativo na redução de bactérias durante a higiene das mãos. Além disso, os investigadores não encontraram diferença entre a quantidade de sabão usada para reduzir as bactérias.

No entanto, são necessárias pesquisas adicionais para determinar quanto e qual o tipo de sabão que mais afecta a remoção de bactérias das mãos.

Mas este estudo conclui ainda outro facto:

Uma lavagem de 30 segundos (20s de lavagem e 10s a enxaguar as mãos) com sabão normal produziu uma significativa redução na contagem média de colónias de bactérias em comparação com uma lavagem com uma duração de 15 segundos.

Os resultados de vários outros estudos indicaram que um tempo de lavagem mais longo pode proporcionar um maior benefício de redução microbiana.

Por outras palavras, vale mesmo a pena demorar um pouco mais a lavar as suas mãos. E isso sim, pode fazer a diferença.