domingo, 14 de agosto de 2016

Uma abordagem Militar à Higiene das Mãos para promover a Segurança do Doente

 Segurança Do Doente
O Nationwide Children's Hospital em Columbus, Ohio, estava a debater-se com um problema de segurança do doente, idêntico a tantas instituições portuguesas. Verificava-se uma baixa percentagem de conformidade com a higiene das mãos.
Foi então experimentado um método “militar”, o “safety stand-down”, que pode traduzir-se como um “Briefing de Segurança”, momento em que todas as actividades não essenciais do Hospital/Instituição são suspensas em todos os Serviços para que sejam discutidos planos de acção que promovam a higiene das mãos com vista a uma melhoria da segurança do doente.
A história detalhada encontra-se publicada no Journal of Patient Safety.
A questão remonta a 2010 quando o hospital verificou um pico de infecções associadas aos cuidados de saúde, o que estimulou um foco renovado sobre a higiene das mãos. Uma observação à prática diária encontrou uma taxa de cumprimento do hospital de aproximadamente 65%.
Depois de melhorar o acesso dos trabalhadores de saúde aos produtos de higiene das mãos, o hospital organizou uma “Conferencia de Líderes para a Segurança e Higiene das mãos”, com a participação de todos os chefes de departamento, chefes de enfermagem e directores de departamentos auxiliares. Nesta conferência, os executivos discutiram a importância da higiene das mãos e desenvolveram um plano de acção para a sua unidade com o objectivo de melhorar a conformidade relativamente à higiene das mãos.
Esta conferência também preparou os líderes para o Briefing de Segurança / Stand-down”, um termo emprestado dos militares em que a diminuição da actividade permite aos líderes de cada serviço falar com os trabalhadores da linha de frente para discutir questões de segurança. No hospital, isso significava que em cada Departamento/ Serviço / Unidade os trabalhadores de saúde suspendem todo o trabalho não essencial para discutir como melhorar a higiene das mãos naquela unidade.
De acordo com o estudo a “atenção” e “ruído” associados à paragem de toda a actividade clínica não essencial captou a atenção do pessoal do hospital e deixou claro que esta acção era importante para todos".
O plano de melhoria transversal a todo o hospital incluía outras acções tais como:
- As Chefias de Departamento ou Serviço cujas unidades registavam conformidade inferior a 90% tinham de reunir com o Director Clínico ou Director de Enfermagem para discutir o desempenho.

 - Todo o pessoal do hospital que foi considerado incumpridor com as normas de higiene das mãos era chamado a reunir directamente com o Director Clínico ou Director de Enfermagem na primeira e segunda falha. Na terceira infracção, era registado uma nota de incidente crítico no seu arquivo pessoal.
Ainda de acordo com o estudo, após o Briefing de Segurança / Stand-down”, a conformidade de adesão à higienização das mãos subiu de menos de 60% para 94%, um aumento estatisticamente significativo. E, com apenas duas excepções, a conformidade global da higiene das mãos tem sido superior a 90% nos últimos três anos e meio.
O estudo conclui que "Este programa pode ser facilmente implementado, os custos pouco, e é relativamente não punitivo." "Nós sugerimos que outras organizações que ainda lutam para alcançar altos níveis de adesão à higienização das mãos utilize esta técnica relativamente simples para melhorar os seus resultados."
Esta “experiencia” é fruto de uma cultura institucional e individual que tem de ser trabalhada.
A realidade em Portugal pode considerar-se muito diferente, por exemplo entre Instituições Públicas e Privadas onde o que é permitido e o que não é assume contornos, por vezes extremos.
Veja-se a realidade das unhas de gel ou a forma como o “fardamento” é interpretado por diferentes Instituições e respectivos profissionais.
Em todo este processo não há ninguém isento de responsabilidades.
Cada profissional é responsável pelos seus actos e por aquilo que aprendeu durante a sua formação base. Passar de aluno a profissional não pode significar o abandono de regras de higiene e segurança do doente.
Se essa formação não foi realizada de forma formal (o que pode ocorrer por exemplo com os assistentes operacionais), é responsabilidade da instituição promover essa formação e respectivas orientações internas.
Cabe depois aos responsáveis das instituições, a todos os níveis, ser o garante do seu cumprimento e exemplo para os profissionais que lideram.
Fica aqui a experiência da Nationwide Children's Hospital no seu caminho em benefício da segurança do doente.

Produzido com base em material do Journal of Patient Safety

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Fernando Barroso

4 comentários:

  1. olá
    «Pagar pelos erros cometidos»....Punição!
    Provavelmente a forma mais eficaz de se obterem resultados...infelizmente.
    Cumprs
    Augusto

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    Respostas
    1. Meu Amigo. É verdade que a maioria cumpre e faz um esforço consciente para estar de acordo com as boas práticas, mas também é verdade que há muitos que simplesmente "não querem saber" colocando em causa tudo o que os outros constroem, e pior ainda, a segurança dos doentes.
      E sobre isto não posso escrever muito mais sob pena de ser mal interpretado...
      Abraço.

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  2. Olá
    «Eternamente», os «Donos do Saber».....
    Provavelmente só mudarão comportamentos e atitudes quando estiverem «do outro lado da barricad».
    Cumprs
    Augusto

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  3. Reconheço absolutamente a importância do exemplo dos modelos como reforço de comportamentos positivos. No entanto a profissão integra valores éticos e deontológicos de ordem superior que a suportam e que se constituem como drivers comportamentais e estruturais que sustentam o livre arbítrio. Logo as medidas de prevenção e controlo de infecção são sobretudo questões de consciência profissional, não passiveis de absolvição por exemplos negativos.

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